Reclames do Plim-Plim

Tendo em vista a ocupação dos espaços públicos, o inter-relacionamento entre as pessoas, a “descoberta” ou “(re)construção” das cidades, conforme nos ensinam sérios pesquisadores envolvidos com a questão do deslocamento das pessoas, “é desejável que o transporte metroviário seja o principal meio de transporte na cidade e que os ônibus sejam complementares”. No Rio de Janeiro, com a preponderância absoluta da opção rodoviária, sucede-se exatamente o contrário: o metrô é praticamente complementar.

O nível de exacerbação dessa opção rodoviária é cada vez mais acentuado. É só verificarmos nesse momento (liga aí a TV) o número de anúncios direcionados à aquisição de novos modelos de automóveis. As pessoas são orientadas no sentido de possuírem novos carros, num possível favorecimento de uma autoestima latente e de um sentimento de poder pessoal já dentro da gente. O que nos faz esquecer de que, segundo ainda os pesquisadores, “um veículo coletivo ocupa nove vezes menos espaço por passageiro transportado que um automóvel particular”. O que torna mais do que aceitável a preocupação dos mesmos pesquisadores traduzida na afirmação de que “o carro particular não poderia estar no futuro das cidades”.

Apesar da sua função complementar no transporte, o que não é o caso do Rio de Janeiro, os ônibus ajudam a desentupir as ruas. Recentes pesquisas nos mostram que “a frota atual de 1,8 milhão de automóveis nas ruas do Rio ultrapassará os três milhões até 2020, o que representará um carro para cada dois habitantes”. Dentro de pouco tempo (talvez oito anos) não adiantará comprarmos um carro novo porque teremos poucas chances de nos locomovermos com ele pela cidade, pelo menos nas áreas de maior densidade urbana.

Nossos governantes não parecem muito preocupados com isso, pois recentemente foi estimulada a aquisição de automóveis a partir da redução de impostos. Do mesmo modo, eles insistem em projetos de alargamento de ruas, avenidas ou construção de rodovias, elevados e viadutos como solução para a viabilização do transporte em automóvel particular. “O carro já realiza uma ocupação privada da via pública”. Isso se verifica inclusive ou também com a questão do estacionamento. Todo estacionamento é pago e bem pago. O que de certo modo implica no fato de a sociedade “pagar para o motorista de carro particular ocupar a via pública”.

Na verdade, ao invés da tentativa de viabilização do transporte em automóvel particular, nossos governantes estariam mais ao lado das pessoas que os elegeram e da sociedade se desenvolvessem projetos ou programas visando a retirada dos carros das ruas. Como? Através de um transporte coletivo de melhor qualidade (pontualidade, conforto, segurança, custo, etc.) e que não fosse predominantemente particular ou privado. Para que ao lucro não fosse dada maior importância que ao atendimento ao público. Fazendo com que tivéssemos realmente direito ao uso do serviço, ao invés de sermos tratados apenas como consumidores.

A TV nos coloca diante de uma profusão de anúncios que nos convidam a adquirir um belo carro novo. Mas habitualmente não nos coloca diante de considerações do tipo das que nos referimos, baseadas em pesquisas desenvolvidas por institutos de pós-graduação e pesquisa de engenharia. No entanto, do mesmo modo que podemos nos prender, dependendo de cada um, a episódios como os de “Fina Estampa” ou ao voyeurismo do Big Brother Brasil, também poderíamos ter a capacidade de direcionar a nossa atenção para situações que afetam o nosso dia-a-dia. E, a partir daí, numa atuação coletiva, através de associações comunitárias, associações de classe, clubes de engenharia ou mesmo através de encontros de casais ou de encontros no bar da esquina, procurarmos sensibilizar as nossas autoridades para o que realmente nos interessa – a melhoria da nossa qualidade de vida na cidade.

Maricá, 18/03/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 18/03/2012
Reeditado em 18/03/2012
Código do texto: T3561262
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