RETIREIRO

De todas as atividades exercidas na roça, o retireiro é aquele que sempre está mais ligado ao pessoal da casa. Até porque, no caso do pequeno proprietário, tal função era exercida pelo chefe da família ou por algum de seus membros. O retireiro, desde o amanhecer, já iniciava a sua atividade. Com um bom porrete e acompanhado por um cachorro, à pé ou à cavalo, lá ía o nosso personagem buscar as vacas para a ordenha. As vacas de bezerro novo, quase sempre, já estavam próximas ao terreiro. As de bezerros mais velhos amanheciam o dia mais longe e, se estivesse chovendo, ficavam na parte mais alta do pasto.

Tão logo chegava ao terreiro, o retireiro começava o seu trabalho tirando o leite, primeiramente, das vacas de bezerro novo.

Abria a porteirinha que dava entrada ao local da ordenha, e com a vaca já amamentando o bezerro, amarrava as pernas da mesma com uma corda. O bezerro, também, era amarrado próximo à vaca . Se a vaca fosse de primeira cria precisava, antes, amansá-la. Nesse caso, era necessário fazer uma tiriba, que era uma vara de bambu ou madeira de mais ou menos quatro metros, perfurada na extremidade. Nela amarrava-se uma corda em forma de laço, que seria colocada nos chifres ou pescoço da vaca, a fim de que ela não se movimentasse na hora da ordenha. Com a vaca já amarrada, o retireiro levava o bezerro até próximo às tetas para que ele mamasse. A partir daí, a vaca soltava o leite e o retireiro iniciava a ordenha, depois de lavar as tetas e enxugá-las com um pano. O leite retirado era colocado em latas de 20 ou 30 litros, em cujas bocas colocava-se um pano para o leite ser coado.

Depois de deixar os bezerros mamando por um determinado tempo, os mais velhos eram separados e levados para o pasto . Os mais novos ficavam em companhia das mães até o meio dia, quando seriam separados. Só os mais novinhos voltavam para o bezerreiro.

O leite era levado para a cozinha da fazenda onde era separado: o que seria para o consumo da família e o que seria destinado à produção do queijo. Muitos produtores preferiam desnatar o leite e vender o creme. O leite desnatado, geralmente, era misturado ao fubá e dado aos porcos. Acreditava-se que o leite desnatado também chamado de leite magro, não valia nada, não possuía vitaminas e nem sais mineirais. O creme acumulado durante uma semana era levado para a cidade, onde uma pessoa o recebia e juntamente com o de outros produtores era levado, de caminhão, no caso de Calambau, para uma fábrica de manteiga em Rio Pomba. Houve uma época que o creme era levado para Senador Firmino.

Geralmente o retireiro era, também, o tratador de porcos e a pessoa que levava o creme para a cidade em um cavalo ou burro. Era, ainda, o responsável para marcar com “ ferro quente " os bezerros desmamados, curar as suas bicheiras e, no final de semana, colocar sal mineral nos cochos.

Com o advento das ordenhadeiras mecânicas, o ritual de "retirar" o leite ficou modificado, acabando , em grande parte, com as funções que eram o orgulho do retireiro.

Nossas homenagens ao Zé Bananal, o retireiro de nossa infância, na Fazenda Baía, propriedade dos nossos pais Zé Carneiro e Dona Cici.

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 18/03/2012
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