Unicórnios, renas e cavalos inteligentes

Quando não existia celular, computador ainda era uma exclusividade da NASA, quando ainda os alunos esperavam o professor entrar na classe e o recebiam com um Bom Dia, em uníssono, e quando aos domingos as crianças se reuniam na matinê, para assistirem a filmes do Superman, do Besouro Verde e do Fantasma, aquele herói que morava numa selva e sempre foi noivo da Diana, sim, um noivado de trezentos ou quatrocentos anos, não sem minha indignação com os pais da noiva, que aceitavam um namoro tão longo, sem que ninguém falasse em casamento. Eu estendia para minha vida as aventuras e cavalgava num cavalo imaginário, que a tudo me obedecia, bastando ouvir a um assobio meu.

Indescritível a alegria que eu senti quando meu pai me disse que havia comprado um cavalo para mim, mas ele teria que ficar na fazenda de um amigo, pois minha casa não tinha como abrigar um animal daquele porte. A simples idéia de ter um cavalo me encantou.

A partir de então minhas aventuras se desenvolveram com um “eu” herói e seu cavalo: impedi 3 assaltos a bancos e fiz dos assaltantes meus prisioneiros; livrei a cidade de um milionário, que fez fortuna tomando os bens dos fracos e oprimidos.

Salvei a Maria Rosa, que eu tanto amava à distância de seqüestradores, que nunca devolveram com vida um refém, mas eu tinha um cavalo que em tudo facilitava minhas tarefas. Quantas vezes ele correu mais veloz que as balas, tiros e flechas a nós endereçados.

Nosso esconderijo era uma caverna atrás de uma cachoeira, e de lá nós assistíamos nossos perseguidores perdidos sem que soubessem para onde teríamos ido

Em determinada ocasião meu cavalo teve que andar mais rápido que o trem, pois teríamos que salvar uma donzela malvadamente amarrada aos trilhos por facínoras. Nunca direi a forma como a donzela me agradeceu, afinal a Maria Rosa pode vir a ficar sabendo (Deus me livre).

Os dez anos dos trabalhos de Ulisses repetiam-se em versão moderna, até que eu não tinha mais idade para salvar bancos, cidades e donzelas; nem para montar um cavalo que eu sabia ser meu, mas nunca me foi apresentado.

Sim, todas as minhas aventuras dividi com um cavalo que eu nunca vi, e adulto olhava para meu pai, sem dizer uma palavra, agradecia pelo cavalo que ele me deu.

Acredito que meu pai entendia o meu Muito Obrigado e com um sorriso de ternura, com uma pitada de ironia, ele afirmava, também sem palavras:

-Eu lhe dei o veículo que o transportou pelos seus sonhos...

-Obrigado pai (e aqui não havia ironia)

Ps: Ao meu pai, falecido em 04.01.2008

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 18/03/2012
Reeditado em 18/03/2012
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