SUA MAJESTADE O SÍNDICO!

SUA "MAJESTADE" O SÍNDICO!

31 de outubro de 2001

Infelizmente, por pura negligência ou até mesmo por simples comodidade, nós brasileiros, evitamos participar de reuniões que muitas vezes são do nosso interesse. Por este motivo, constantemente somos pegos de surpresa por alguma pessoa de personalidade vaidosa e doentia que justamente pelo fato de nos omitirmos, consegue alcançar posições que pelo menos para ela, vem trazer-lhe uma fictícia posição de prestígio, que com certeza se homens despretensiosos não fugissem de suas responsabilidades enquanto cidadãos, jamais pessoas deste quilate chegariam onde vez por outra temos o desprazer de notar suas presenças. Após chegar àquele "degrau de destaque" que há muito era cobiçado por ela, a sua personalidade começa a demonstrar as suas verdadeiras características.

Com a finalidade de ilustrar essa minha afirmativa, narrarei um fato bastante desagradável ocorrido recentemente com uma pessoa que estimo.

Esse amigo que durante muitos anos, participou de diretorias e até foi presidente de várias instituições filantrópicas na cidade onde mora. Homem sério que sempre cumpre com todos os seus deveres de cidadão, e consequentemente procura zelar pelo seu nome. Há alguns anos, resolveu que já havia contribuído com sua cota de serviços comunitários para com a sociedade local. Mesmo sendo convidado constantemente para participar de vários movimentos sociais e comunitários, ele sempre se esquiva com a justificativa de que "no momento" está apenas dedicando - se à sua família.

Todos nós que somos seus amigos, procuramos respeitar sua atitude, sabemos que não faz parte de sua personalidade ficar indiferente aos fatos. Aceitamos a suas desculpas para manter-se temporariamente afastado dos acontecimentos que ocorrem fora do seu lar, porque sabemos, que logo este nosso amigo voltará novamente com toda a força para juntando-se a nós trabalhar ainda mais um pouco em benefício da nossa cidade.

Dias atrás o encontrei. Notei em seu semblante que algo o estava aborrecendo muito. Após insistir para que me contasse o motivo de sua tristeza, confidenciou-me que é possuidor de algumas salas comerciais em um edifício que fica no centro da cidade onde mora, e que uma dessas salas encontra-se desocupada há alguns meses. Por motivos que fogem ao seu conhecimento, não tem recebido nenhum comunicado sobre as reuniões do condomínio e nem correspondências sobre as resoluções das mesmas, nem sequer qualquer aviso sobre o que se passa no condomínio desse edifício.

Entretanto, o principal motivo de seu aborrecimento é que, o atual síndico do prédio em questão, em tempos passados se mostrava uma pessoa muito simpática e amiga. Após tornar-se síndico do edifício onde ele próprio mantém um escritório, sua personalidade transformou-se completamente, ou quem sabe, agora que ela mostrava-se realmente como na realidade é. Acabou-se aquele homem simples que sempre fazia questão de mesmo discretamente, esboçar um sorriso para as pessoas com quem encontra pelos corredores do prédio. Porém, agora ele tornara-se síndico, cargo que "exige muito de sua capacidade" para administra-lo, impossível para ele agora, comportar-se do mesmo jeito de antes de alcançar tamanha responsabilidade.

Ele agora é síndico, "senhor absoluto" das decisões a serem tomadas naquele edifício, onde para não fugir a regra, apenas poucos proprietários "quando avisados" participam das reuniões que decidem as atitudes de praxe a serem tomadas.

Fazendo questão de ressaltar que de modo geral não tem nada contra os síndicos, que na maioria das vezes são pessoas de espírito altruísta, ele afirma que tem conhecimento de que esporadicamente esses cargos são ocupados por pessoas totalmente despreparadas para essa finalidade.

Continuando sua narrativa dizia: ele agora demonstrava ser um "homem muito importante" tornara-se síndico(...)

Agora sim, agora ele poderia falar alto com os zeladores do prédio, poderia gritar com os vigias noturnos, que algumas vezes os encontra cochilando na portaria. E melhor ainda, com sua astúcia, poderia até continuar por muito tempo naquele "importante” cargo. A fórmula é muito simples, procura tratar com deferência um número de pessoas que com as suas presenças consegue coro para que as reuniões sejam efetuadas, e assim ele possa permanecer pelo tempo que desejar naquela posição de "destaque", que para ele, vaidoso, porém, sabedor de suas limitações, é um cargo onde pode esbanjar e dar vazão, ao complexo de inferioridade que sempre procurou esconder de todos que o "conhecem (?)".

Agora sim, pelo menos conseguira um cargo onde pode dar ordens, pode mandar e desmandar, ele agora é o síndico.

Meu amigo continua sua narrativa contando que estava em casa tranquilamente aguardando chegar o horário do almoço, quando foi anunciado que o carteiro estava no portão de sua residência querendo entregar uma correspondência que só poderia ser entregue em suas mãos, mesmo um pouco surpreso com àquela atitude do funcionário dos correios, resolveu ir ver que missiva tão importante que somente ele poderia recebe-la. Sua surpresa foi grande, ao ler aquela carta notou que era uma intimação judicial para que ele comparecesse diante do juiz com a finalidade de resolver "importante" pendência.

De imediato assustou-se, tinha a consciência tranqüila que não havia cometido nenhum crime. Após fazer uma verdadeira varredura em sua memória, certificou-se que realmente nada tem a dever perante a justiça.

Resolveu então, ler com mais calma e atenção àquela intimação (...) Quando identificou o autor da "queixa crime" realizada contra ele, quase não acreditou no que estava lendo... A sua decepção e revolta foram tão grandes que naquele momento várias atitudes legais que poderiam ser tomadas por ele passaram por sua mente. Entretanto, resolveu acalmar-se para não agir no mesmo nível de quem havia provocado àquela situação muito constrangedora. O motivo da intimação seria para que ele comparecesse perante o juiz para que fosse resolvido um grande problema, sim "grande problema". O que ocorreu era que a corretora que administra os seus imóveis, talvez por descuido ou esquecimento, não havia realizado o pagamento do condomínio da sala que estaria desocupada. E "Sua Majestade" o síndico dentro de sua "grande capacidade", nem mesmo se prestou a fazer qualquer tipo de correspondência para a corretora que administra àqueles imóveis de meu amigo, e nem sequer se deu ao "grande trabalho" de entrar em contato, mesmo que fosse através de algum funcionário subalterno, com o proprietário daquela sala que estava com suas obrigações financeiras atrasadas. O que era de se estranhar era que antes daquela pessoa ser "elevada" ao grau de síndico, demonstrava nutrir amizade por meu amigo.

Para não nos alongarmos muito, meu amigo conta que, após passar um final de semana com sua alma bastante magoada, na segunda - feira, procurou resolver aquele fato que o estava incomodando. Telefonou para a imobiliária que lhe presta serviços, e combinou que mandaria o pagamento de "sua grande divida".

Simplesmente com aquele acerto financeiro, meu amigo resolveu "aquele grande problema" que fez com que seu nome tenha sido levado "as barras dos tribunais" por seu ex-amigo "Sua Majestade" o síndico.