Quando o antigo mundo romano se encaminhava para o fim, ano 480,  nasceu em Núrsia (Itália) São Bento e com ele nascia, em certo sentido uma nova época, uma nova Europa.
         Para além do horizonte da morte que sofreu todo o mundo construído sobre a potência temporal de Roma e do Império, São Bento foi para a sua geração (e para as gerações sucessivas) uma nova aspiração: a aspiração “para o alto” despertada pelo desafio de uma vida nova, nova vida apresentada pelo evangelho juntamente com a esperança da ressurreição.
         O monaquismo beneditino da Regra de São Bento é um programa radical nas dimensões da vida quotidiana, onde o heróico se torna normal, e o normal, o quotidiano, se torna heróico. Une o trabalho à oração e a oração ao trabalho. “Ora et Labora”.
         O pensamento fundamental de Bento é que toda a nossa vida se desenvolve perante o olhar de Deus. A ascese beneditina consiste em viver nessa presença. Segundo São Bento, viver na presença de Deus é ficar sob as suas vistas de Pai amoroso, sentir-se seguro ao sermos guiados por Ele, convencidos de que esse caminho pelo qual Ele nos leva é o que conduz à vida. A união entre o “ora” e o “labora” só é possível numa presença de Deus, vivida experimentalmente.
         É simplesmente admirável a simplicidade de tal programa, e ao mesmo tempo a sua universalidade.
         As sociedades no decorrer destes 15 séculos que nos separam de São Bento, tornaram-se herdeiras de uma grande civilização em meio a vitórias, derrotas, luzes e trevas.
         Vivemos uma época onde tem-se a impressão de a economia dominar a moral, de a temporalidade dominar a espiritualidade. A orientação exclusiva para o consumismo está tirando da vida o sentido que lhe é mais profundo. O trabalho, submetido aos coletivismos, está se tornando um constrangimento alienante e aparta-se, “na marra” da oração. Tudo isso cria uma tensão que frequentemente degenera em episódios absurdos de feroz violência.
         Fica-nos a mensagem de São Bento de encontrar um sentido para a vida. Não se pode caminhar e viver  para o futuro sem reconhecer que o sentido da vida é maior que a temporalidade, que ele está acima desta.