PAIXÃO

Abstratos são o amor e a paixão. Ambos só existem se alguém os sentir. Sentir o amor é não compreendê-lo e nisto consiste o seu maior encantamento, nesse liame de que prescindem conceito e definição.

De variável campo semântico, à palavra amor se agregam significados e significantes. O amor agora vive – ou imagina - o seu momento Ágape, vocábulo tão antigo na origem quanto inusitado lhe tornou o modismo. Diz-se então, a propósito, ser “pontual” e “recorrente” o amor, quando ágape.

Outra análise, entre tantas que sugere o amor, tenta poeticamente explicá-lo:

Amor com amor se faz.
Os que sabem, fazem amor.
Os que não,
Têm relação.
(Geir Campos).


Paixão vem das mesmas raízes ou esferas, mas se difere em conotações. É mais denso e restrito o seu campo semântico. Pode-se associá-lo à dor, à tristeza, à perda, a frustrações, ansiedades e angústias, mas, sobretudo, a sofrimento.

Segundo o "Consultório Etimológico", paixão vem do Latim PASSIO, “sofrimento, ato de suportar”, de PATI, “sofrer, aguentar”, do Grego PATHE, “sentir (originalmente, tanto coisas boas como ruins)”.

Assim, a vida desta palavra em Latim se resumia a designar um conjunto de sensações negativas.

 
Com o tempo, entretanto, lá pelo século XIV, ela passou a querer dizer também “forte emoção, desejo”, e mais tarde ainda, “entusiasmo, grande apreço, predileção”.

Há quem viva para e sob paixões. Deve-se a essa maneira de ser ou de estar um neologismo já dicionarizado: paixonite. Existem os que por ela se movem. E, por incrível que pareça, a razão não é o amor inflamado. É aquele time de futebol, aquele partido político - dois clássicos exemplos.

Não quero falar de paixão (ou paixonite) pela mulher “amada”. Vem-me logo à mente uma derivação: passional. Penso o crime e a ele eu contesto alegações acerca do amor.

Refaço o meu conceito. Limito-o à definição: paixão é sofriemento. Sofrimento ágape, ouso dizer, sem risco de modismo.

 
Reflito a Paixão Segundo São Mateus, oratório de Johann Sebastian Bach, vista ontem à noite na Sala Villa Lobos. Como o título sugere, representa o sofrimento e a morte de Cristo narrados nos capítulos 26 e 27 do Evangelista. Orquestra, coro e solistas em momentos de rara beleza e encantamento, destacando-se o dueto contralto e violinista (Spalla) com carga de incontida emoção que ainda hoje causa a maior de todas as paixões.
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CORO FINAL

Chorando nos prostramos
ante teu sepulcro para dizer-te:
descansa, descansa docemente.
Vossa tumba e sua lápide
serão cômodo leito 
para as angustiadas consciências
e lugar de repouso para as almas.
Felizes são teus olhos
que se fecham por fim.

(Johann Sebastian Bach)


Vale a pena ver e ouvir estes três momentos:
clique nos links a seguir.

 
http://www.youtube.com/watch?v=BBeXF_lnj_M&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=oBJ3cQ5uyE4&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=-miQ6_FTtN0&feature=related

Evidente que ontem, em Brasília, com outra orquestra e coral.


LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 21/03/2012
Reeditado em 23/03/2012
Código do texto: T3567704
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