O azar de Thor

O azar de Thor

Todos os dias, em todos os cantos, pedestres, ciclistas, motociclistas são vítimas nas estradas e ruas desse país, onde as leis cochilam e as condições de tráfego ou de trânsito são precárias. Mas quando acontece um acidente envolvendo celebridades, a imprensa cai em cima, tal qual aves de rapina em missão predatória. Thor, que não é o deus do trovão, mas que é filho de um dos homens mais ricos do Brasil foi a bola da vez. Não fosse o azar de ter uma vida humana atravessando o seu caminho nos seus últimos segundos de vida, ninguém jamais teria notícias de suas inúmeras multas por excesso de velocidade e nem da vista grossa que o Detran possivelmente fez ao ignorar suas transgressões, concedendo-lhe a carta definitiva para sua habilitação. Não é preciso explicar muito para entender os motivos, coisa muito natural no Brasil para quem tem dinheiro. Mas o que a gente estranha é que os milhares de acidentes envolvendo gente do povo nem vão para o noticiário, quando muito fecham as páginas policiais dos jornais diários. Pobre não dá Ibope, não desperta interesse da mídia. Mas quando se trata de celebridades, aí a coisa pega fogo. Foi esse o azar de Thor. Se estava certo ou errado, se dentro ou fora dos limites de velocidade, se fez a coisa correta ao prestar socorro e informar às autoridades sobre o acidente, isso não importa. Agora é a hora de colocar um figurão nos holofotes da fama e especular a sua vida. Para o coitado que se foi não tem remédio, resta o consolo de que pelo menos a família não vai ficar desamparada, talvez tenham até mais conforto, dependendo da compaixão monetária que na certa vão providenciar. Mas que vão surgir nuvens negras e muitos trovões nos próximos dias da vida de Thor, não restam dúvidas. Depois da tempestade, as coisas irão se acalmando aos poucos e como é de praxe, em breve tudo cairá no esquecimento. Daqui a uns dias, um carro novo e os vestígios da fatalidade irão sumir com o tempo. Thor só não pode se esquecer que aqui na terra os mortais caminham, não voam... E estão muitos anos atrás da tecnologia de ponta de seus carrinhos de luxo, que passam tão sutilmente na estrada que às vezes a gente nem vê... só sente, como aconteceu agora.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 21/03/2012
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