PAGAMENTO

Seu Domingos todos os dias vai ao mercadinho do seu Aroldo comprar, nem que seja um docinho para apreciação vespertina. Ele já é freguês a mais de cinco anos, desde quando viera de sua terra natal.

O mercadinho do seu Aroldo é bem desenvolvido, diga-se que é de porte médio: prateleiras bem arrumadas e bem surtidas, um caixa para despache e um despachante digno de negócios: seu Aroldo, homem sabido, mão-fechada, que apesar de boa praça, pensa mais nas vendas e no lucro do que em qualquer outra coisa.

Pois bem, a respeito da freqüência de compra de seu Domingos no comércio do velho Aroldo, deu-se o causo a ser exposto.

Seu Domingos sempre que ia mercadinho, observava, escolhia e comprava o que desejava levar. Nunca foi de comprar fiado, sempre pagava tudo certo e na hora. Nunca foi de comprar nada a mais do que o seu dinheiro não desse, ao contrário, sempre sobrava nem que fossem uns meros centavos.

O problema é que esses meros centavos, seu Domingos nunca os via, pois o esperto do seu Aroldo sempre dava algumas balinhas no lugar, alegando não ter troco. Esperto o seu Aroldo!.

E toda vez era a mesma coisa – pegue seu Domingos cinco balinhas de troco... pegue um pirulito, estou sem troco... o amigo aceita alguns chicletes de troco? – e assim, ia se dando a forma de comerciar dos dois, raramente não acontecia.

Desde que seu Domingos chegara, já haviam passado quatro anos. Um dia, seu Domingos, como sempre fora fazer ao mercadinho, mas desta vez não comprou pouco como de costume. Levou quase de tudo que o mercadinho tinha a oferecer. Dava para mais de R$ 150,00 em compras. Seu Aroldo achou estranho, mas nem ligou. Registrou e somou tudo na máquina – é cento e cinquenta reais.

Seu Domingos puxou R$ 50,00 do bolso e deu ao despachante que logo abrandou – falta cem reais, seu Domingos. O velho, com um sorriso irônico – ah, desculpe, está aqui o restante – puxando um sacão de cheio de bombons.

Todos que estava na fila, olharam perplexos a cena, mas esperaram o que acontecia.

- O que é isto, seu Domingos?– indagou o velho Aroldo.

- Isto é restante do pagamento, o senhor não passou três anos me dando troco de bombons, pois bem, eu não gosto de balinhas, e acabei guardando estes anos todos. Aqui, acolá apreciava uma. Então, pensei o que eu ia fazer com este monte bombons e, fiz isto; resolvi fazer o mesmo, dar o restante do que falta, assim como o senhor fazia. Acho que o que tem aí equivale a uns R$ 100, 00 ou mais.

Todos admirados, aplaudiram e começaram um coro:

- Recebe, recebe, recebe....

Afinal, todos ali eram também clientes do seu Aroldo há anos e o velho fazia o mesmo com todos eles, só não haviam percebido.

Seu Aroldo meio envergonhado recebeu e, dali em diante nunca mais deu balinha como “troco”.

Joel
Enviado por Joel em 23/03/2012
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