Adeus, Chico das Mil Faces
Jorge Linhaça
 
Como explicar Chico Anysio?
 
O homem que tinha mil faces, mil jeitos, mil maneiras de ser envolver o seu público.
 
Sua imensa gama de personagens, ao mesmo tempo de divertiam criticavam a sociedade e seus segmentos.

Não vou cair no lugar comum de que foi o maior humorista deste país.Seus personagens eram muito mais do que humor, eram retratos , às vezes caricatos e outras vezes muito reais do povo brasileiro.
 
Chico foi genial, encontrou caminhos possíveis para andar na fronteira da crítica social sem melindrar os governos.Seus alter-egos se multiplicaram entre profetas e pais-de-santo afeminados; entre coronéis e contadores de causos; políticos e craques de futebol; vampiros tupiniquins e canalhas assumidos.
Sua visão crítica da sociedade permitiu-lhe exercitar sua genialidade de forma plena, suas amizades poderosas permitiram a divulgação de suas idéias escondidas sob a roupagem de seus personagens.
 
Ascendeu como estrela global, manteve-se vivo enquanto assim o permitiram mas existem momentos e momentos, com a saída de Boni da globo foi perdendo espaço, com a morte de Roberto Marinho acabou por agonizar no seu ostracismo televisivo.
Buscou novos caminhos, novos rumos, na pintura, na literatura mas por certo que não era mais a mesma coisa...Chico era a reunião das mil faces de seus personagens, vivia e respirava através deles, precisava de suas criações para manter-se forte, determinado, ao longo dos anos eles tornaram-se a sua razão de existir.
 
Como sobreviver à morte de tantos filhos?
 
Filhos?
Sim, cada personagem criado e um filho de nossa alma, de nossa vivência, de nossa alegria ou de nossa tristeza.Para quem viveu tantas vidas em uma só, Chico foi morrendo desmembrado; Cada personagem esquecido nas brumas do tempo era um pedaço de si mesmo que perecia.
 
Arrisco-me a dizer que de todos eles, o professor Raimundo era aquele que lhe propiciava maior prazer, que lhe dava a oportunidade de resgatar talentos esquecidos e revelar novos humoristas.
 
Chega um momento em que a vaidade pessoal é substituída pela prospecção e pelo resgate dos esquecidos.
 
O fim da escolinha deve ter sido por demais doído, o velho mestre do humor, que "fazia escada" para os outros ficou relegado a si mesmo.
 
Bento Carneiro e Salomé tentaram, em vão, manter vivo o mestre Chico, fazendo-o respirar por aparelhos, digamos assim...mas Chico era grande demais para tão pouco, sua alma inquieta já não via outros rumos que lhe dessem alegria...Aquela alegria satírica que sempre acompanhou a sua vida.
 
Chico resolveu seguir adiante, reencontrar os velhos amigos da escolinha e de tantas outras jornadas lá no "picadeiro do céu."
 
Carequinha, Costinha, Valter d'Ávila, Rogério Cardoso,
Marcos Plonka e tantos outros cujo nome me foge restando apenas os dos personagens, lá estão à sua espera...loucos para ouvir o seu famoso apelo em prol dos professores deste país..." E o salário...ó...!
 
  
 
Salvador-BA, 24 de Março de 2011
 
 
 
Contatos com o autor: