O Congresso das Línguas Venenosas

Sábado passado, o telefone toca. Acho que o assunto deve ser importante por já estar tarde da noite.

-Alô?- digo

- Que bom que está acordado tenho algo importantíssimo para lhe falar- é dito do outro lado

- Diga

- Sabe o camarada.....

A partir daí meu stress se elevou ao máximo, ligar tarde da noite, já é trágico, mas pra falar da vida alheia, é o cúmulo. Na hora minha vontade fora de desligar o telefone e ir deitar. Pois sustentar uma conversa que não levaria a nada é perda de tempo, não acham?

Quando a conversa já se inicia desta maneira, já dá para perceber que este assunto vai dar o maior bafafá. E são essas as conversas que possuem por objetivo comentar a vida alheia, que se tornam as típicas fofocas, ou como prefiro chamar um Congresso de Línguas Viperinas. Para os que desconhecem esta expressão, significa uma assembleia de línguas venenosas, as quais visam apenas, especular sobre a vida dos outros.

Presente ao longo de toda a História, tal ato é freqüentemente ligado à imagem das mulheres. No Brasil o hábito foi mais formalmente caracterizado na década de 20 e 30, o qual emergia nas sociedades com força total, na época eram os tais mexeriqueiros, pessoas, que a cidade inteira sabia que não aguentavam guardar um segredo se quer. Geralmente ou eram as moças solteironas, que adoravam difamar o casamento alheio, por saberem que não iam arranjar marido, ou então as senhoras viúvas que se julgavam portadoras da experiência e botavam o dedo na vida dos jovens.

E esse hábito foi evoluindo gradativamente, o que antes era por trás e relevantemente discreto, se tornou algo cada vez mais comum, hoje basta você virar as costas e pronto o seu melhor amigo está falando mal de você.

Tem gente que quando sabe que é alvo destas, até leva na esportiva:

- Sei que falam de mim, não me importo, como bom patriota, esforço-me para lhes dar-lhes assunto.

Enquanto outros já saem no tapa e muitas vezes, o que era para ser apenas um comentário infame vira até caso de polícia.

O pior de tudo isso é que hoje não se restringe apenas as solteironas, viúvas, e a errônea conotação de que mulher é quem faz fofoca, é contrariada atualmente, hoje muitos homens estão se demonstrando cada vez mais adeptos a participação deste congresso, e essa adesão masculina é tão crescente, que acabei chegando a conclusão de que os homens são piores que as mulheres, acabam falando muito mais da vida alheia do que imagina-se.

Nós homens se divertimos em julgaá-las pelo ímpeto de que qualquer coisinha já é motivo para se reunirem, ou ficar frente ao telefone para comentar a vida alheia. O que não percebemos é somos iguais ou até mais fofoqueiros que elas. Segundo estudo já é comprovado, o homem é mais fofoqueiro que a mulher. O problema é que os assuntos se diferem, por isso que não ficam tão na cara as fofocas masculinas. Nossas fofocas, além de serem entre colegas de trabalho, se baseiam em assuntos que dizem a respeito do âmbito trabalhista, do chefe, da possibilidade de promoção e das gafes comportamentais cometidos. O que está em jogo por trás dessas intrigas é quem vai vencer na carreira e quem vai ficar no meio do caminho. Enquanto as mulheres preferem conversar entre amigas e parentes, sobre assuntos como relacionamento, aparência e o sexo oposto, os quais são os temas mais evidentes.

Se analisarmos historicamente, a fofoca é uma instituição tão antiga quanto o agrupamento dos primeiros seres humanos. Por isso, mexeriqueiros ou fofoqueiros, como preferir classifica-los, sempre existiram desde que o mundo é mundo, o que tem de se tomar cuidado é para não cair na lábia destes, caso contrário você será o próximo tema do Congresso destas Línguas Viperinas.

* Viperinas = Venenosas

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 28/03/2012
Reeditado em 28/03/2012
Código do texto: T3581469
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