os barbeiros que me serviram...http://youtu.be/-krlGRHg4a4








Os barbeiros que me serviram...


Amigo leitor,confesso que,além,de viver com a musica o dia inteiro,sou um cinéfilo incurável.Minha especialidade recai sobre os filmes antigos
em preto e branco,os seriados e os desenhos animados aparentemente,inocentes.E,neste rever cenas marcantes,lembro-me da luta pela sobrevivência do King Kong,lá,encima do Empire States,filme de 1930 ,daquele polvo que se agarrou ao submarino do capitão Nemus em " 20000 leguas submarinas",do duelo travado no filme “Duelo ao sol’e por que não, a cena lendária do desenho animado do pica pau como barbeiro interpretando a famosa ária do Barbeiro de Sevilla “Figaro”.
Pois é,prezado leitor,não é que fui assaltado por uma nostalgia com gosto de doce de laranja da terra,um tanto doce,posto que as lembranças são amenas,e um tanto amarga,pois,os personagens ,em sua maioria,não estão mais neste mundo.Estou me referindo aos barbeiros que tive.O homem,ao contrario da mulher tem uma fidelidade canina com seu time de futebol e a seu barbeiro,mesmo que,em algum momento,ele tenha feito uma “barbeirada”,deixando o famoso caminho de rato ou se seu crânio ficou triangular.Se,eventualmente,nos mudassemos,trocassemos de bairro,à duras custas,continuariamos a prestigiar este profissional.
Nesta crônica,resolvi homenagear meus cinco barbeiros em minhas seis décadas e meia de vida.Confesso que os abandonei quando São Elesbão os contratou para trabalharem na “barbearia celeste”.
Minha memória vai aos anos cinqüenta e lembro de meu primeiro barbeiro,o Manoel ,um Deus de ébano,um gigantesco “Ganga Zumba” que batucava como poucos,utilizando a tabua de afiação e sua navalha.Naquele tempo,ainda,não tínhamos a máquina  elétrica e a operação,se,assim pudesse dizer,parecia uma trepanação com arrancamento dos cabelos.Bem que Ambroise Paré poderia ter criado uma anestesia geral para aliviar o sofrimento da clientela que não via a hora de terminar o martírio.O Manoel tinha uma agravante,pois,cúmplice fiel de meu pai,não admitia o corte “príncipe Danilo” e deixava aquela ridícula bolinha de pêlo ,como fez o Ronaldo no final da copa do mundo.Saia do salão acabrunhado,evitando ser visto.No dia seguinte,era aquela agonia de “selo, carimbo e estampilha”,brincadeira que se caracterizava em dar cascudos e tapas na careca.Depois,chegou o Seu Manuel,um português simpático,agradável,mas que me deixava constrangido,pois,me elogiava durante todo o ato,uma vez que,passar para o Colegio Pedro ll era como estudar na universidade de Coimbra,usar aquela capa preta e ainda cantar fados!Existe um ditado que diz:’Quando se está sendo elogiado,corre-se perigo”.
Quando São Elesbão chamou o seu Manuel,passei a cortar o cabelo com o Pedrinho,que,com seu jeito carinhoso,simpático,infelizmente,foi vitimado, precocemente, por um certo vírus homofóbico.
Mudei da Tijuca para Jacarepaguá e confesso que fiquei numa incerteza, quase existencial,na escolha de meu novo barbeiro.Observava,através do vidro,os perfis,biótipos,cinesias,aquele que deitaria sua tesoura sobre minha cabeça.Confesso que,apesar da fama de bom confidente,prefiro o barbeiro lacônico,onde o som principal é o barulhinho de seu instrumental.O Henrique foi o escolhido!Rendo  à ele o titulo de barbeiro padrão,uma vez que,discreto,detalhado,educado,realizava seu mister como poucos.Entrava ao salão,sentindo-me o “homem macaco’ e saia como um verdadeiro Marcelo Mastroiane ,um “belo Antonio” funcionante.
Infelizmente,quando num inverno dos anos noventa,ao comparecer para mais uma “cirurgia capilar” dei com um aviso na porta.”Hoje não funcionaremos,pois São Elesbão convocou o Henrique para a barbearia celeste.Imagino a trabalheira destes verdadeiros mártires a enfrentarem as longas barbas de São Pedro,Darwin,o bigodinho de Gandhi,as costeletas,suíças dos nobres da corte francesa.
Hoje,entrego a cabeça ao Silvio,boa praça,caprichoso,mas que,confesso,dei uma terrível mancada.O Silvio,a cada sessão ,me fala da “palavra de Deus”.As vezes,começa o papo falando da derrota do nosso flamengo,do Ronaldinho e vai daí...O pior que ele pára de cortar e como se estivesse no púlpito e inicia a pregação e dá-lhe palavrório,salmos,cartas dos apóstolos,Isaias,Jeremias,Matias, Ananias etc e tal.
Mas,o Silvio é um crente sincero,bondoso e continuarei oferecendo meu crânio em holocausto àquele  que poderá ser meu ultimo barbeiro,a não ser que São Elesbão...
Vira esse olho prá lá São Elesbão!!