fotos  de minha  autoria


CIRO & GIUSTINA:"JORNAS PRA VOCÊS!"

Há algum tempo,num comentário,em tom de brincadeira com o amigo Ciro Fonseca,lhe fiz esta pergunta:
_Ciro,você conhece uma jorna?
E postei uma recomendação:”Caso não a conheça,pergunte à Giustina”.
A indicação deu-se em função das muitas pesquisas que a grande cronista e amiga costuma fazer.Também,levando-se em conta a nossa quase vizinhança aqui no Sul,imaginei que , por aquelas bandas ,as jornas que eu conheço fossem também de seu conhecimento.Para minha surpresa,descobri que o termo “Jornas”,da maneira com que por aqui (no PR) é empregado,trata-se de puro regionalismo limitando-se,assim,ao nosso Estado.
Brilhantemente,como é de praxe,a minha amiga gaucha expôs numa crônica o resultado de sua pesquisa revelando ao amigo Ciro e à inúmeros leitores de sua página ,o verdadeiro significado da palavra “ jorna”,como consta no Google e no Aurélio.Tudo bem,mas ainda não era esta ,”a jorna” de meu questionamento.
Saí à campo e,para minha surpresa,apesar de todo modernismo atual,acabei me deparando com dezenas delas em funcionamento e, o curioso,tratadas com muito zelo pelo fato de hoje representarem verdadeiras relíquias.
“DAS JORNAS”
Artefato feito artesanalmente à partir de dois troncos de pinheiro,perfurados ao meio,revestidos na parte inferior por uma folha de aço com pequenas dobras ( frisos),por onde os grãos de milho são triturados virando farelo.Acionadas num movimento giratório,um tanto preso,o que força um pesado exercício braçal .

“DAS LEMBRANÇAS”
Nos dias chuvosos,diante da impossibilidade de trabalhar na lavoura,aproveitava-se o tempo para estocar suprimentos aos animais.
Isso era atribuição da molecada que acatava as ordens depois de algumas negociações com os adultos que incluiam,entre outras coisas,um farto café com bolinhos de chuva e carta de alforria para,após o lanche,esbaldar-se coxilha à fora.
Reunidos nos celeiros a tarefa era assim dividida:Os mais novos debulhavam as espigas e os adultos emprestavam a força dos braços para fazer girar o pesado trombolho triturador.
A trepidaçao no assoalho de madeira provocava uma melodia  ritimada e um tanto sinistra.As chuvas rolando mansas formavam lamaçal pelos terreiros.Diante da porta ,atraídos pela lamúria das jornas,iam-se juntando:patos,marrecos,gansos e galinhas,dividindo espaços com cavalos e vacas.Todos na tentaviva de “garantir o seu”.
Dentro do celeiro,a algazarra ficava por conta da guerra de sabugos,o mexe e remexe nas quinquilharias,caça aos ratos e até algumas ligeiras perversões,compreensíveis e perfeitamente perdoáveis à púberes em plenas descobertas.
Como parte do acordo selado antes da jornada,à tardinha éramos convocados a sentar -se á mesa onde empanturrava-se de farto café acompanhado dos “agradinhos da tarde”.
Saciados,e com a tarefa cumprida,os campos lavados de chuva,as frutas silvestres e as pescarias eram a única meta.
Ingenuos sonhadores de um tempo em que contentava-se com muito pouco para ser feliz.
Por vezes ,ouvindo o barulho da chuva,ainda perco-me em recordações que fazem-me trepidar em pensamentos o choroso lamento das jornas.Então,lembro-me de Bibiana de Érico Veríssimo ouvindo sua avó dizer quando ventava:”Noite de vento,noite dos mortos...”Num átimo de momento transporto-me para os terreiros barrentos de minha infância quando os adultos diziam:”Tarde chuvosa...”E nós respondíamos em uníssono:”Tarde de jornas!”

“AGRADECIMENTOS”
Esta crônica não teria o menor sentido não fossem as fotos ilustrativas que consegui graças à hospitalidade e simpatia de:
“Joaquim das Chagas”
Residente na localidade de Riozinho,num ponto estratégico ao lado de uma rodovia,carrega consigo o ufanismo da maioria dos paranaenses.Observem o “out-Dor”
No canto do jardim de sua casa.

Cruzamos o terreiro com “estoque de lenha picada já antevendo os rigores do inverno”

e adentramos ao paiol,onde ele posou satisfeito ao lado da sua jorna.



“Mariano Mierziewsky”
Mais conhecido como “Marianão”,polonês de sotaque arrastado,palheiro sempre na  boca,reside no topo da Vila Matilde.Um lugar bonito de onde descortina-se uma paisagem exuberante que leva até a azulada distância da serra da Esperança.
Sua jorna é lembrança do bisavô.Tem mais de um século de existência e o milho que ele ainda tritura para os dois gansos que mantém,provém de seu bem cuidado quintal.



Finalizando,à título meramente ilustrativo,captei a imagem deste celeiro perdido sob um azulado céu de outono.

Confiante de ter cumprido à contento a minha incumbência (Giustina finalizou sua crônica dizendo que devolvia a bola pra mim),resta-me dizer à vocês:Ciro e Giustina,meus amigos queridos:
“Taí!...J O R N A S pra vocês!