"UM CASO DE BULLYNG"

Ilizardo José Forte nasceu no mato, lugar de onde nunca conseguiu arrancar a saudade que lhe sufocava o peito. Mas aos dez anos, o Destino achou que era hora de Zardo (como era chamado) ir para a cidade Grande, a Capital. Com aquela idade não sabia nem pegar num lápis para rabiscar; era muito bom no cabo da enxada, na foice e no lombo de um cavalo! Mas, com os tempos mudando, já não podia mais deixar filho sem estudar, por isso, seu pai: Cerne de Aroeira Forte mandou Zardo mais uma renca de irmãos para a Capital, onde ficariam sob os cuidados de uma irmã mais velha. Foi como transferir-se do Paraíso para o centro do Inferno! Tudo que sabia fazer na roça, ali na cidade, para nada valia. Então, neutralizou-se, pois, o que, ali, fazia um menino respeitado, lá na roça não existia: nunca jogara futebol, sempre fora de falar pouco e tratar a todos com muito respeito, mas, na cidade, falar pouco, ser tímido e respeito demais era defeitos. Então, não fica difícil imaginar como virou um caos a vida de Zardo, principalmente, na escola, onde até suas professoras, olhavam-no da cabeça aos pés como a dizer “só tem tamanho”,... Naquela época, no Brasil, não haviam importado a palavra bulling e, até no Mundo pouco se falava disso ou até se falavam, mas os meios de comunicação eram lentos,... a Globalização tava ensaiando os primeiro passos. E, sinceramente, se bulling naquela época já fosse considerado crime aqui no Brasil, acho que Zardo seria considerado, não como vítima, mas como o culpado, porque, pela forma como Zardo era tratado, não só pelos colegas, mas por professores e até a direção da escola, Ilizardo é que era uma provocação ambulante a pacifica sociedade escolar. Provocação, eis uma boa palavra da nossa língua que poderia substituir bullyng a contento.

Há várias formas de bullyng ou provocação: provocação simples; provocação mediante ameaça; provocação por gesto, por palavra, provocação explícita, implícita,... Por que, de uma hora para outra, bullyng se tornou moda na nossa sociedade? Será que antes não havia essa modalidade de crime? Como a maioria das novidades, ou melhor, inovações, no Brasil, acontecem, não de dentro para fora, mas de fora para dentro; primeiro vira moda em algum lugar do Mundo, principalmente nos países de Primeiro Mundo, depois, só bem depois, segue-se aqui no Brasil. Com o bullyng não foi diferente; assim, não era porque o Brasil não tinha uma palavra adequada a nomear esse tipo de desumanidade, como vimos, PROVOCAÇÃO cumpriria o mesmo papel, com toda eficiência, então, não foi a palavra a importada, foi o crime, ou melhor, a reação de não mais aceitar, nos países de Primeiro Mundo esse gesto covarde praticado, quase sempre contra uma minoria em desvantagem; sim, quando virou moda a reação contra tal crime, o Brasil, através da mídia começou a denunciar casos de bullyng, principalmente nas escolas. Mas, então, Zardo, já havia crescido, apesar de muito sofrer, era um Forte e sobreviveu sem grandes traumas. Porém, Zardo, prometeu a si mesmo, que, estudaria e denunciaria, um dia, de alguma forma essa prática covarde, esse crime.

Hoje, bullyng, ou o combate a sua prática está na moda, assim, como está na moda e causa revolta, até comoções sociais o desrespeito ao idoso, crime que antes “não existia”, o crime contra o consumidor (crime muito recente), o Direito da criança e do adolescente (antes eles eram muito respeitados) e até, acreditem, uma tal Lei Maria da Penha, para defender as mulheres contra homens violentos (antigamente, homem nunca encostava as mãos numa mulher,... a não ser para fazer carinho!). Essas melhoras nas Leis em defesa dos mais fracos fazem parte do progresso moral da Humanidade e que, poucas pessoas reconhecem,... porque o Ser Humano tem uma facilidade enorme para esquecer sua história! Ouvem-se, hoje em dia, pessoas dizendo que vivemos a era do progresso intelectual, da tecnologia, da medicina, enfim, das ciências,... mas, ”moralmente, a sociedade está pior”. Que injustiça! Tenho certeza que Zardo e muitos que como ele sofreu bullyng acham que o ser humano é melhor hoje que ontem.