Crônica dum Pinto Pequeno.

Meu nome é Pinto. Sou bem conhecido aqui por onde vivo, mas poucos me chamam pelo nome, sou conhecido mesmo é como Pinto Pequeno. Sei o que você está pensando, mas essas coisas são assim mesmo. A gente não escolhe o tamanho que vai nascer.

Quando eu era pequeno...digo, mais novo, meu apelido era Pintinho. Era bonitinho, nem dava atenção, não sabia ainda perceber a malícia que tinha naquele nomezinho. O tempo foi passando e eu nunca que mudava. Lembro que meu pai dizia: “O tempo passa e esse pinto parece que não cresce nunca!”. Pois é.

O tempo passou mesmo e eu – sem chances – não cresci nem um pouquinho. Mas, meu amigo, não quero que sinta pena de mim não. Disso eu já estou farto! O negócio é que eu aprendi a viver assim. E quer saber mais? As Galinhas me adoram! Eu deixo as franguinhas loucas, companheiro.

Todo o lugar em que passo é aquela troça: “Tá escalando rodapé, Pinto Pequeno?”, “Sabe por que Pinto Pequeno não pode brincar em gangorra? Porque não sobe nem desce!”. Eu nem ligo. Zombam é de inveja. Pagam de Galo, mas, na hora de puxar um papo sabido com as frangas, quem arrasa é o Pinto Pequeno. É isso mesmo. Pequeno, mas seguro de si. As Galinhas enlouquecem.

Nunca estou sozinho. Por onde ando estou sempre cheio de Pinta. Pequeno, mas cheio de Pinta. Claro que existem sempre aqueles valentões, querendo dar uma de dono do terreiro, mas eu não me preocupo. Por ser um Pinto Pequeno eu entro em qualquer buraco, e é por esse motivo que eu ando sempre por eles – daqui, particularmente, conheço quase todos. É por isso que eu fico na minha e eu estou sempre na boa.

Se meu tamanho não me tivesse feito já um apelido, eu poderia ser o Pinto Mineiro – quem sabe? Devaneio à toa, afinal, para Elas, não sou mineiro e nem pequeno: sou o que elas querem, e o que elas querem tudo bem feito. Não há peito de galo nesse mundo que assim as sirva, como eu. Pinto.