A Mulher de 30 anos

O despertador toca bem cedinho, ela acorda, se levanta e vai para o chuveiro, depois liga a TV e seca seus cabelos tingidos de dourado, a cor, segundo ela, para quem quer brilhar ao sol. Em seguida, separa um vestido vermelho, justo e decotado. Afinal, os resultados do seu investimento em condicionamento físico e estética apareceram e estão prontos para serem apresentados ao mundo. Em seguida, vem o ritual da maquiagem, dos cílios e por último, o toque daquele batom. Ao sair, arrisca uma última olhadela no espelho, de alto a baixo e dá aquela jogada clássica de cabelos para os dois lados, esquerda e direita, por cima dos ombros, levanta o queixo e sai para a rua trotando lenta e elegantemente, empinada, como um puro-sangue em dia de grande prêmio. De passagem, entra na padaria da esquina para pedir um minúsculo pão de queijo e um "expresso" para viagem. Os olhares masculinos acompanham suas curvas e os femininos, seus sapatos. Os homens disfarçam, as mulheres invejam e ela entra imponente pelo saguão de mármore. Seus passos retumbam até o elevador, que se abre aos seus pés. Os Homens abrem caminho, se apertam, respiram fundo e tentam decifrar o mistério da sua doce fragrância. Impressão é o que ela deixa, do zero ao último andar. Ao chegar, despe-se silenciosamente e troca de sapatos, prende os cabelos, veste um uniforme branco, impecável e inicia seus preparativos diários para servir chá e café aos diretores. (Walter Sasso)(Autor do livro "Dobra Púrpura" - Amazon)