PAIS E FILHOS

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Na obra Culture and Commitment, de 1969, encontram-se interessantes considerações sobre cultura, compromisso, cumplicidade. Margaret Mead, a autora, distingue, aí, três espécies de cultura: a) pós-figurativas, em que as crianças aprendem com os adultos, caso das sociedades primitivas; b) co-figurativas, representadas pelas chamadas grandes civilizações, em que crianças e adultos aprendem entre si; c) pré-figurativas, em que os adultos aprendem com os próprios filhos, época atual. E a antropóloga conclui: “Assim como nós não temos descendentes, os nossos filhos não têm antepassados”.

Marx escreveu sobre os mitos que a imprensa diária e o telégrafo do seu tempo já podiam fabricar em um só dia. Hoje... O adolescente que lê Tempo de Menino, escrito pelo ficcionista Sebastião Gontijo, acha que aquele tempo não existiu. No entanto, está ali, na moldura literária, um retrato de personagens, enredos, tramas e cenários da própria história da hoje centenária Divinópolis. Na realidade, quanta coisa mudou! Aquele tempo distante eventualmente é repescado, em algumas reuniões de família, a que ainda comparecem, em datas festivas, filhos, genros e noras, netos...

O sistema nos instrumentaliza para viver num tipo de sociedade consumista, em que o lobby prevalece à meritocracia. Somos educados a caminhar de muletas, a depender de padrinhos políticos, valorizando mais quem indicou. Ser feliz, aparentemente, significa trabalhar ou atuar de maneira a ganhar dinheiro, ter prestígio, aparecer na TV, ser focado e fotografado, ser um big brother ou um famoso jogador de futebol. Até que ponto essas pessoas se sentem mais felizes no topo da glória? Será que Tiririca, no fundo, é hoje mais feliz, como deputado federal, do que quando cantava sua Valentina? Além disso, nem sempre podemos viver, por injunções da vida, daquilo que mais apreciamos, optando por dedicar-nos, por hobby, a uma atividade paralela prazerosa. É isso aí...