“Quantos livros você leu este mês?”

Nesta época, havia me formado em jornalismo.
Só que desempregado, nossa vida era circular pelo largo do Café, do Arouche.
Sempre a procura de matéria (era foca), para vender aos jornais.
Era o que se chama hoje (Filante) (Serrote) embora sempre tivessem os pagantes, amigos mais afortunados ou já com emprego que compravam nossas matérias e repassavam aos jornais como suas.
E ainda tinha o desmancha prazeres, que estraga a vida de qualquer cristão.
Neste dia estava em um jantar, onde a monotonia imperava.
Mais cinco minutos, iria tomar café e sumir  dalí.
Eis que surge o radiante e belo senhor Raposo.
Para você ter uma pálida ideia, pense num calo do dedo mindinho, melhore ainda e coloque um sapato social novo, percebeu?
Este é o velho amigo Raposo.
Aceito em todas as rodas, digo suportado.
Porque herdou vários imóveis na cidade e faz filantropias.
Mediante o preço altíssimo, de ter que aturá-lo.
Como em todo lugar se precisa de filantropos, Raposo está em todas.
É o senhor sabe tudo.
Acho que ele assiste todos os jornais falados de todas as rádios..
Duvido que o fulano saiba ler.
Depois dessa breve explanação, perceberam que não sou simpatizante do dito cujo.
Dos prazeres do citado cidadão, um deles é reduzir a paciência de qualquer um a trapo.
Pelo andar da carruagem, eu fui o escolhido da noite.
-E aí Oliveira, tudo bem?
Você não muda rapaz, até a mesma roupa.
Retruquei,
-É que gosto de marrom, tenho vários ternos iguais.
-E todos tem este rasgado no cotovelo?
Correção Raposo:
-Não é rasgado, é remendado.
Como estávamos atraindo a atenção de todos.
-Pois ele não fala esbraveja,
Não grita vocifera,
Tirei todas as pedras do bolso.
Rapaz estava ontem lendo Nietzsche, Descartes, lembrei-me de você.
Já leu Nietzsche não?
Peguei o safado no contrapé, ah!
Agora eu te mostro tonto...
Pois é, tenho pegado naquela biblioteca municipal, próxima de sua casa sabe?
-Você mora próximo da D. Jose Gaspar não?
Ou você não frequenta bibliotecas?
Raposo tem provavelmente um metro e noventa.
Já estava com um metro e meio.
Percebi que estava nervoso, tinha dois cigarros acessos, um em cada mão.
-Não tenho lido muito ultimamente.
-Mas sua preferência é por clássicos, épicos, ou literatura contemporânea?
Parece que deu disenteria em meu amigo.
Me deixou sozinho, com os dois cigarros no cinzeiro e desapareceu.
Agora quando me vê, corta volta.
Sei que por aí ele fala.
-O Oliveira é do tipo pobre metido a besta.
Não tem nem calça para vestir e tenenen, tenenen, tenenen.
Perceberam o que acontece hoje em dia?
Alguém que tem uma situação financeira privilegiada,
Despreza os menos afortunados.


"Quando estiver subindo, cuidado, pois na descida pode encontrar as mesmas pessoas que maltratou"

Oripê Machado.



 
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 04/04/2012
Código do texto: T3594850
Classificação de conteúdo: seguro