Felicidades e mais uma Páscoa

Não tem jeito: A mídia não ajuda .

Parece que cada ano fica mais difícil pensar na vitória do bem sobre o mal.

Nada mais frustrante do que ver, a todo momento, situações de medo e tensão. Claro, a mídia também vive disso, mas o comum das pessoas é conversar a respeito horas a fio . E vale para todos os lugares e todos os públicos. É conversa sobre o pai que jogou a filha pela janela, o atropelado que não foi socorrido, o marido que grita e bate na mulher, os assaltos, terrorismo, a infância perdida para muita gente... a lista não tem fim e nunca terá.

Como somos maus! Lemos e falamos a respeito de tudo isso no cotidiano e depois vem aquela sensação de impotência e ansiedade que também não tem fim.

Mas, ao mesmo tempo, quem sabe a gente toma um pouco de coragem e começa a pensar e a agir por um mundo melhor, mais humano , criativo, lúcido.

E se a gente começasse a pensar e a viver a Páscoa tão próxima com a intensidade que o peso moral do evento requer?

Sabe aquele “vai com Deus, filho” quando ele sai de casa? Aquele: ”oi, mãe, estou ligando prá gente conversar um pouquinho”. Um bolo simples prá repartir com os colegas. Uma acolhida gostosa de quem quer que seja na nossa vida. Curtir aquela vontade de estar perto só para sentir a respiração do outro. Deixar o ouvido à disposição daquele que sofre. Coar o café na hora com pão de queijo quentinho prá amiga que vem de longe visitar – mesmo que seja rápido. Emprestar um bom livro, fazer uma pequena costura prá aquele agasalho que logo logo vai prá campanha. E nem pensar em doar roupa suja! Quem sabe um pouco de paciência com a vizinha depressiva que adora falar que tudo vai mal. Dar aquele telefonema prá tia que, de tão solitária, virou rabugenta, mas que vale um interurbano na noite de domingo na hora do Fantástico. E se a gente contemplasse um pouco? Pode ser alguma montanha, um beija-flor , a samambaia que escorre vivaz do teto da sala, o passeio do gato ou do cachorro pela casa. Olhar carinhosamente o viaduto do Chá com os seus passantes eternamente afobados. Contemplar as próprias ruas do nosso bairro, com o sorriso doce e manso. . Contemplar e vibrar com toda a energia as novas descobertas do filho pequeno – ou mesmo grande – ou as nossas próprias descobertas. Não ter vergonha de deixar o olhar brilhar por coisas pequenas e muito menos ter a vergonha de reconhecer o privilégio de o nosso prato de comida estar religiosamente presente na nossa mesa e a gente agradecer verdadeiramente esse santo privilégio.

O grande líder pacifista do século XX, Mahatma Gandhi, falava dos nossos pensamentos: que os bons pensamentos só se traduziriam em boas ações. É evidente, mas também dizia não haver um caminho para a felicidade, pois a felicidade era o caminho.

Que tenhamos a coragem suficiente para fazer dessa Páscoa – dessa Passagem – um momento especialíssimo para as nossas vidas: bons pensamentos, boas atitudes , sabendo que o mal passa e a gente precisa dar uma grande ajuda prá isso acontecer. E que é necessário muito trabalho, força, fé e esperança para a construção de um mundo mais habitável, humano e fraterno.

Que haja da nossa parte uma ajuda cotidiana, incansável para que esse planeta seja mais civilizado.. Para tanto, envio para todos vocês um documento histórico que eu adorava trabalhar em sala de aula quando o tema era Roma Antiga. É o Retrato de Jesus, escrito por um político da época.

Uma felicíssima Páscoa para todos vocês.

''SABENDO que desejas conhecer quanto vou narrar, existindo nos nossos tempos um homem que vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que pelo povo é inculcado o profeta da verdade; e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, criador do céu e da terra e de todas as coisas que nela se acham ou, que nela tenham estado. Em verdade, ó César, cada dia se ouvem coisas maravilhosas deste Jesus: ressuscita os mortos, cura os enfermos, numa palavra, é um homem de justa estatura e muito belo no aspecto e há tanta majestade no rosto que aqueles que o vêem são forçados a temê-lo ou amá-lo. Tem os olhos da cor da amêndoa bem madura, são distendidos até a orelha e, da orelha até os ombros, são da cor da terra, porém, mais reluzentes. Tem no meio da sua fronte uma linha separando o cabelo, na forma de uso entre os Nazarenos. O seu rosto é cheio, o aspecto é muito sereno, muito parecido com sua mãe, que é de rara beleza, uma das belas mulheres da Palestina.

''A barba é espessa, semelhante ao cabelo, não muito longa, mas separada pelo meio. Seu olhar é muito afetuoso e grave. Tem os olhos expressivos e claros, o que surpreende é que resplandecem no seu rosto como os raios do sol ... porém ninguém pode olhar fixamente o seu semblante porque, quando resplende, apavora, quando ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade.

''Dizem que nunca ninguém o viu rir em público, mas, antes, chorar. Na palestra, contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele nos aproximamos, verificamos que é muito modesto na presença e na pessoa. Caminha descalço e sem coisa alguma na cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim, mas, em sua presença, falando com ele, tremem e admiram. Dizem que um tal homem nunca fora ouvido por estas regiões. Em verdade, segundo me dizem os hebreus, não se ouviram jamais tais conselhos, de grande doutrina, como ensina este Jesus; muitos judeus o têm como divino, mas, outros me querelam, afirmando que é contra a lei da tua majestade [...] Dizem que este Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas, ao contrário: aqueles que o conhecem e que com ele têm praticado afirmam ter dele recebido grandes benefícios e saúde. Se a majestade tua, ó César, deseja vê-lo, como no aviso passado escreveste, dá-me ordens, que não faltarei de mandá-lo o mais depressa possível.

À tua obediência estou prontíssimo, aquilo que tua majestade ordenar será cumprido.

Salve. Da tua majestade, fidelíssimo e obrigadíssimo. Publius Lentulus, presidente da Judeia.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 05/04/2012
Código do texto: T3595506