"NA ALEGRIA, A TRISTEZA"

“NA ALEGRIA, A TRISTEZA”

Certa feita, li um texto que dizia que a juventude estava perdida, ninguém gostava de estudar, o respeito era mínimo. E do educador Comenius, dos anos 1.600, li, em texto dado a lume por volta de 1632, que a escola, seus métodos e seus resultados vinham sendo questionados há mais de cem anos e que o trabalho de professores inovadores tentando apresentar algo novo, para a educação dos jovens, nada produzia, até por boicotes.

Ora, o primeiro texto a que me referi, se a memória não me falha, era dos anos 500 antes de Cristo, aproximadamente. Como se vê, parece corriqueiro ouvir de uma geração mais provecta que as novas gerações praticamente para nada servem ou que a escola está sempre defasada. Todavia, o fato é que ninguém pode contestar a evolução cultural, tecnológica e artística da Humanidade.

Toda essa introdução é para tentar me antecipar a possível dúvida do meu leitor e mostrar-lhe que tenho consciência do que gerações falam de gerações.

Vamos, pois, diretamente ao assunto. Tenho andado muito no razoável metrô de São Paulo. Não sou novo não, pertenço há alguns anos àquele grupo hipócritamente e ‘politicamente correto’ tachado de “melhor idade”. Portanto, em não havendo excesso de pares da mesma ‘carga’, eu deveria ter um aprazível assento no comboio.

No mês de março de 2012, estava eu num vagão lotado do metrô viajando em pé e a meu lado uma simpática e agradável jovem, talvez uns 23 anos. Eu, lendo, estava bem na frente dum daqueles bancos reservados a grávidas, idosos, deficientes e obesos, ocupado por duas jovens faceiras e gostosinhas, na faixa de 20 a 25 anos, cada uma ouvindo seu I-pod ou algo parecido, olhos cerrados, convenientemente indiferentes ao mundo que as cercava.

Atrás de mim, mas um pouco mais à frente do vagão, também em pé e com certo ar de cansado, outro senhorzinho. Num rompante, a moçoila que estava a meu lado gentilmente tocou aquele senhor e perguntou se ele queria se sentar. Diante da resposta afirmativa, a despeito da incredulidade dele de alcançar tal benesse, a jovem cutucou a primeira das gostosinhas sentadas e em tom firme:

─ Você não quer dar o lugar para aquele senhor? ─ questionou-a duro, olhando fundo na menina dos olhos dela.

Imediatamente, a jovem se levantou, creio que até vexada, mas certamente com ódio da interlocutora, cedendo lugar ao senhor.

Foi uma cena alegre e triste, lamentável também. E confesso que, no íntimo, exultei com o fato da bondosa jovem ter-se preocupado com o outro senhorizinho e me ignorado completamente. Afinal, meus cabelos brancos estão à disposição entregando minha provectude (palavra que acabei de inventar!). Que idade aquela belezura me dava?!, pois os bancos especiais também são destinados a pessoas acima de 60 anos!

Essa foi a parte alegre da cena, alegre para mim, é claro (mas só na base da brincadeira, pra me descontrair), todavia inserida na dor maior da constatação do descaso e total desconsideração de alguns jovens com grávidas, deficientes, idosos e obesos. Pior ainda é que no dia seguinte, lá estava eu novamente num dos abarrotados vagões do nosso caro metrô. Novamente em pé, já que todos os lugares destinados às pessoas “especiais” outra vez estavam ocupados por moças, na flor da idade e no auge da falta de educação. E, curioso, nos dois dias, só garotas. De novo ouvindo I-pod, de novo olhos convenientemente fechados para ignorar olhares de censura ou mesmo enxergar um possível “especial” com direito àquele banco.

Que Deus nos ajude! Que nossos jovens, especialmente os que agem assim, ponham a mão na consciência e se questionem se serão eternamente jovens!

Prof. Leo Ricino

Leo Ricino
Enviado por Leo Ricino em 06/04/2012
Reeditado em 07/04/2012
Código do texto: T3598442