Alguns deslizes no roteiro do "irmãos de fé"

Ontem 06/04/12 a TV Globo exibiu a filme “Irmãos de Fé”, que me dei ao trabalho de acompanhar. Apesar de encenar um roteiro Bíblico, comete alguns pecados bem preocupantes.

A história começa com um jovem infrator de nome Paulo, que interno na Febem, ou algo assim, recebe assistência espiritual de um padre, (Marcelo Rossi) que lhe presenteia com uma Bíblia.

À medida que ele começa ler os Atos dos Apóstolos, a história se desenvolve eivada de infidelidades. Umas irrelevantes, como apresentar Pedro sendo açoitado sozinho, (para destacar o "Papa") mesmo o texto original sendo diverso, senão, vejamos: “ E concordaram com ele. E, chamando os apóstolos, e tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus, e os deixaram ir.” Atos; 5; 40

Essa infidelidade é estratégica, para a “enpapização” de Pedro que o filme tenciona.

Depois, apresenta Tiago como sendo um legalista ferrenho, mais judaísta que cristão, defensor da circuncisão dos convertidos. A Palavra não o retrata assim, antes, por ocasião do concílio apostólico de Atos 15, onde a pauta era justamente essa, ele, Tiago, tomando a palavra diz o que segue: “...julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue.” Atos 15; 19 e 20 Que os gentios sirvam a Deus, sem rituais judaicos, foi o veredito do “legalista” Tiago.

Além disso, toda trama apresenta Tiago como antagonista de Paulo, tanto que, o discurso enfático que Paulo faz contra os falsos apóstolos que se infiltraram na igreja de Corinto, torna-se um caloroso Tete a tete entre os dois. (?)

Ora, Paulo disse de seus alvos: “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo.” II Cor 11; 13, Ele considerava Pedro, Tiago e João como colunas, não pseudo-apóstolos; Paulo deixa claro contra que se dirige sua diatribe, nada tendo com Tiago que estava em Jerusalém então.

Depois, a trama funde a discussão entre circuncisão e incircuncisão, com o clássico “conflito” entre fé e obras.

Ora, coloquei a palavra conflito entre aspas, porque jamais existiu. Quando Paulo fala sobre o meio de entrar para a igreja diz que não é pelas obras, antes pela fé; Tiago, por sua vez, falando aos que já entraram adverte sobre o “modus operandi” dos cristãos. A fé, se deve mostrar mediante um agir condigno, as obras, ensinou.

Mais adiante, a tramoia faz das advertências de Tiago quanto aos danos da língua, algo que se volta contra o sábio ensino Paulino, sobre a graça de Cristo, nada poderia ser mais falso!

Mas, a cereja da torta se reserva para o fim; alguém chama Pedro para apaziguar aos brigões Tiago e Paulo, dizendo que sem ele, (Pedro) edificamos sobre a areia, e com ele, sobre a rocha; assim, de “Papa” ele foi guindado a Cristo(?)

Segundo o Senhor, a “casa na rocha”, constrói “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica...” Mat 7; 24

Quanto à Pedra, o mesmo Pedro ensina: “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido.” I Ped; 2; 6 Ele, basta ver o contexto, fala de Jesus, não de si.

Primeiro, jamais houve esse confronto veemente entre Tiago e Paulo, a ponto de carecer mediação apaziguadora do “Santo padre”. Ademais, ele, era o legalista de plantão, tanto que para pregar ao romano Cornélio, o Espírito Santo teve que lhe mostrar uma visão três vezes, depois dizer: “ Não chames de imundo ao que Deus purificou”, ( ver atos 10) Além disso, seu “Papado infalível” sofreu pública correção do mesmo Paulo, quando dissimulou, em face ao seu infindável conflito; como lidar com os gentios? “E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.” Gál 2; 11 e 13

O filme não promete em momento algum, ser fiel à Bíblia, mas subentende exatamente isso. E trata-se de grosseiro embuste e distorções preconcebidas pelo catolicismo.

Emporcalhar a interpretação com concepções humanas, todavia, não é privilégio dos católicos, basta a ver a choldra “evangélica” da “teologia da prosperidade”, por exemplo.

De modo que o desserviço à verdade é deveras vasto. Acho que foi o Barão de Mauá que disse: “de onde nada se espera, é que nada vem mesmo”, e dessas fontes, esperar compromisso com a verdade é desmedido, como a nanotecnologia de Itu.

Contudo, a Bíblia continua a encerrar sua fala com severa advertência: “...se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro.” Apoc 22; 18 e 19

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 07/04/2012
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