A estação da maturidade

Todas as estações têm seu charme, suas marcas. Em regiões de clima frio ou temperado para frio, as mudanças são mais bruscas e acentuadas, mas elas acontecem mesmo onde o clima é tropical. Kipling descreve as nuances dessas passagens na jângal indiana de forma poética, com as diferenças no comportamento da natureza, imperceptíveis para a maioria, pois, meio toscos que somos, nem sempre nos damos conta, principalmente, da passagem do verão para o outono.

Neste ano, alguma coisa aconteceu, pois não houve aquela suavidade na transposição, como quase sempre acontece: um dia era verão, e o sabíamos; no outro já era outono, e o sentimos. De repente o céu limpou-se e a luz mudou: luz de longe enxergar e, talvez por isso, aproximar e, nas tardes, luz de envolver, de aquecer a alma, de aconchegar. Aquela coisa que o outono tem, de resumir as estações em um dia, passou a acontecer seguidamente, talvez porque a estação é aquela senhora velhinha e sábia, que nos conta suas histórias na varanda, a olhar as árvores a se preparar para a hibernação.

Acostumamo-nos a não aceitar as perdas, a glorificar as demonstrações de juventude, a condenar as quedas. O outono nos ensina a valorizar as perdas, a admirar a maturidade e a embelezar as quedas. É preciso que as árvores, logo após carregar e compartilhar a doçura das frutas, se dispam da exuberância das folhas para entrar num período de descanso para que a vida, na surdina, urda a beleza da primavera. É preciso que as folhas percam seu verde e experimentem matizes até chegar à maturidade serena e aí caiam e, ao cair, desenhem todo tipo de caminhos de descoberta, até tocar a terra, de onde um dia vieram.

Hoje, o céu está com aquele azul que não é o azul abafado do verão, nem o brilhante do inverno, nem aquele pintado com nuvens de vento como o da primavera; é diferente, aparenta estar mais perto, mais presente, mais envolvente. Mas isso não impede a visita de uma tempestade à tarde, para mostrar quem manda. Se vier, será bem vinda, derrubará algumas folhas que pacientemente esperam por seu destino e, um pouco mais cedo, se transformarão em tapetes e, de alguma forma, novamente, serão alimento, serão sublimes.