Á MARGEM DO RIO SOTURNO

Dona Zefa era daquelas pessoas simples criadas no interior. Ela tinha uma alma pura, daria pra dizer-se que era visível uma auréola de luz sobre a sua cabeça. Mas o que se via mesmo eram as suas mãos enrugadas e tremulas e seus ombros vergados, acho que de tanto trabalhar...

Ela era nossa vizinha preferida e morava bem perto, em uma casinha branca, com caramanchões de rosas cor de rosa, sob os quais eu gostava de, à tardinha, sentar-me e conversar com Dona Zefa. Suas histórias, que não eram poucas, eram revestidas de um encantamento peculiar, pois nelas era contada o tempo em que ficou viúva, na colônia e muito pobre. Seu Liberato a deixou muito cedo, morreu aos quarenta anos, parece que foi tuberculose, doença da época. Dona Zefa viu-se com cinco filhos pra criar; o trabalho da roça;da casa e muita roupa para lavar.

Numa dessas nossas tarde de feliz colóquio, contou-me que essa montoeira de roupa era lavada no rio. Rio Soturno, que passava perto de sua casa. E ali, ela ficava horas ajoelhada sobre alguns cascalhos, lavando toda a roupa. Não tinham muita, mas, nessa hora parece que se multiplicavam.

Fiquei imaginando essa cena distante, primaria e rudimentar e preocupei-me com a possível dor nas costas que essa posição desconfortável lhe traria e perguntei-lhe como aguentava por tanto tempo?

Para responder-me a pergunta, dona Zefa olhou-me, com aqueles olhinhos mais escuros que as agua do rio Soturno e totalmente desprendida de todos os adereços e melindres resultantes deste século, respondeu-me: Guria!!! O problema não era a coluna e sim as enchentes que além de levarem a margem do rio levavam junto a tábua de lavar....

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 10/04/2012
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T3605290