A MULHER QUE NÃO CONHECIA O JARDIM.

Logo cedo acordar, abrir os olhos, levantar, ir ao banheiro, tomar seu desjejum e como todos os dias, sentar no computador.

A vida para ela era uma rotina gostosa, cheia de surpresas prazerosas.

Começava bocejando entre xícaras de café a viajar em um mundo só dela.

Navegando pela web visitava os mais diferentes, remotos e distantes lugares do planeta e algumas vezes fora dele.

Viu incontáveis pores do sol e outros tantos nascer. A lua já não era uma eterna visão poética, até crateras batizou com seu nome.

Morria de medo de cobras, aranhas, escorpiões e uma infinidade de outros insetos, e agora tocavá-os na tela.

Fez safáris inúmeros pelos mais exóticos e estranhos lugares, em meio aos maiores e mais ferozes animais da terra.

Mergulhou nos mais profundos e perigosos rios e mares, com baleias e tubarões e a todos acariciou.

Quando a saudades bateu, pode recordar parentes que a muito não via, de irmãos e irmãs de moradia distante. Amigos que para longe mudaram. Aquele amor, a muito num canto qualquer escondido.

É como se a maquina do tempo fosse seu computador.

Mas, o que fazia com que perdesse o sono e varasse a madrugada, eram os sites de relacionamentos. No inicio teve receio de colocar seus dados e fotos, mas a cada abrir e entrar uma nova amizade nascia.

Até que surgiu um relacionamento e, após, trocas de fotos, e-mails, piadas, conversas banais, trocas de confidências, transformou-se em namoro.

A cada teclar a paixão indecisa e estranha no inicio, aos poucos virou um grande amor.

Seus rotineiros e tranqüilos dias acabaram. Acordar na madrugada para ligar a maquina a procura de uma sílaba qualquer de carinho ou passar a noite insone, cheia de dúvidas e ciúmes, ao imaginá-lo teclando para outros endereços da web, ficou constante.

Só tinha paz ao notar o Outlook anunciando a chegada de uma postagem e verificar ser dele.

Conversava com ele sem perceber que não estava ao seu lado. Acariciava e beijava a tela, como fosse seu rosto e sua boca.

Ao deitar para dormir, falava do quanto o amava, dava-lhe beijinhos, pedia que sonhasse com ela, como se a seu lado estivesse.

O dia em que após uma tempestade a internet caiu e ela ficou sem conexão por algumas horas, teve a impressão que enlouqueceria.

Ligou do celular a todos que conhecia na esperança de terem conexão e permitirem a ela utilizar.

O desespero tomou conta dela, um aperto tão grande no coração que faltou ar. Começou a gritar e quebrar tudo o que estava ao alcance

Quando um seu irmão, chamado junto com a policia, conseguiu entrar, o susto foi grande.

Um cheiro de mofo, sujeira, janelas a muito fechadas, como se a casa a muito houvesse sido abandonada.

Ao sair da casa para o hospital a luz do sol foi dolorosa para ela, estranhou o ar cheio do aroma das flores do seu jardim.

Quando no hospital o médico perguntou se estava melhor, respondeu:- “Sim doutor, posso usar o computador do senhor?”.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 10/04/2012
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T3605374
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