Titanic, cem anos depois

Com o fito de “homenagear” às vítimas do naufrágio do Titanic, que completa cem anos no dia 15 próximo, o transatlântico Balmoral partiu ontem, dia 10, do porto de Southampton no Reino Unido com destino a Nova Yorque.

Levando o mesmo número, 1309 passageiros, que iniciaram a fatídica viagem, sendo que as passagens estavam esgotadas há dois anos, malgrado seus altos custos, entre três e seis mil libras.

Tico e Teco que assistiram à notícia, começaram a altercar. Um achando uma justa e merecida homenagem, o outro, colossal hipocrisia, definir um deleite turístico como homenagem.

Enquanto eles acondicionavam suas avelãs, me pus a pensar... é mesmo, se a homenagem tivesse estrito caráter espiritual, como um culto em memória, por exemplo, as reservas esgotariam dois anos antes? Ou, os espaços disponíveis seriam ocupados na data?

Claro que no prisma turístico é um enorme deleite poder conviver num cenário de época, repetir a trajetória, exceto o iceberg, comer do cardápio de então, conhecer o lugar exato do acontecido, ainda que nada se possa ver, senão água.

Entretanto, trata-se apenas de espertíssima jogada de Marketing da empresa organizadora, e mero passeio turístico feito por quem pode pagar por ele.

Se eu pudesse, faria? Talvez, apenas sem o rótulo de homenagem. O fato é que temos imensa dificuldade com a verdade, e, recorremos às máscaras mesmo em face a insignificâncias; até nossas ações meritórias podem destoar, ao vir de um viés “profissional” mais que, de motivação pura.

Que o diga eu, ministro do evangelho, cujo “dever”, incita às boas obras. Acho questionável que essa “bondade” profissional seja mesmo isso, e não, meros “ossos do ofício”. Como diz um ditado cá dos pampas; “burro que carrega açúcar, até o rabo é doce.” O seu fazer, pode dissimular o ser.

Na verdade basta a mais ínfima atitude meritória, e corremos o risco de subirmos no salto. Aí, o Grande Mago do universo agita sua varinha mágica em nosso baú da memória, e as rãs cobrem o trono do Faraó. Como disse um gaiato qualquer; “Quando quiseres falar de mim, me chame; sei cada coisa a meu respeito”.

“Os poucos homens bons que conheci, - Disse Charles Spurgeon- nenhum julgava-se bom, e todos queriam ser melhores.”

Então, quando tentado a presumir-me bom, de repente considero, e não raro, tiro meu jegue do aguaceiro.

Vou citar de memória um dito de Platão que gosto muito, mais ou menos o que segue: “ Quando um homem for considerado bom ou justo, lhe caberão por isso, honras e homenagens, e nós, ficaremos sem saber se ele é justo por amor à justiça, ou, às honrarias e homenagens que recebe; Devemos pois, colocá-lo numa situação em que de tudo isso seja privado, se ainda assim, permanecer justo, ele o é, por amor à justiça.”

Tinha algo assim em mente o Senhor quando disse: “quem quiser ser grande, seja servo de todos”.

Felizmente essa visão “distorcida” do Salvador, foi corrigida por nossa geração de “Apóstolos” do ar condicionado, com sua esquadrilha Air Gospel, e aqueloutro do papamóvel. Grandeza é isso Jesus, agora Ele aprendeu.

Infelizmente, basta insinuar sal e pasto onde só tem berrante, e o efeito manada salta aos olhos. De qualquer forma, as consequências são a crítica do tempo, e com bem menos que um século, uma década talvez, o dano desses párias será tal, que já não se tratará de fé, mas, de polícia.

Por ora, sorvem os doces ventos da prosperidade na dianteira de seus colossais transatlânticos, digo, templos, e apesar do Senhor ter advertido que os seus “não são do mundo”, esses podem ( como Leonardo Di Caprio) bradar a plenos pulmões: “I’m king the world”.