Quem sou eu

Quando eu era adolescente e até mesmo muito tempo após os vinte anos, possuía muitos complexos relativos a meu corpo. Isso sem falar dos traumas interiores. Claro poderia falar aqui dos meus medos interiores meus conflitos mentais, mas queria me ater a meus complexos relacionados à minha aparência física. Cresci em meio a mulheres pequenas, baixinhas e de pés delicados. Minha mãe calça 34, minha tia mais querida calçava 34 forçadinho, porque o pesinho dela estava ali entre o 33 e o 34. O dilema dela era achar sapatos femininos de salto alto, só tinha sapatos infantis para ela. Todas tinham menos que 1,60. E eu me danei a crescer e cheguei aos 1,67, comecei a calçar 36, 37, 38...

Isso fez com que eu aos 15 anos me sentisse uma giganta gigantesca. Me encolhia para parecer menor, tentava ficar invisível e não chamar a atenção. Quando ia comprar roupas sempre achava que eram pequenas demais e não serviriam em mim. Um dia uma vendedora me mostrou umas blusinhas que outra amiga disse que era a “minha cara”, fiquei surpresa ao ver as delicadas blusinhas que ela me mostrava. Eram pequeninas e com alcinhas de amarrar no pescoço, com um decote que em minha opinião naquela época era um arrombo de privacidade. Eu disse: Essa blusinha não me serve! E ela respondeu: Claro que serve você tem complexo de “grandura”. Foi aí que descobri que aquilo era complexo. Mas descobrir isso, não fez a menor diferença. Continuei me sentindo enorme. Jamais mostrava as pernas pois elas eram grossas demais, ao sorrir sempre me lembrava de segurar o sorriso a fim de a boca não parecer tão grande. E pasmem; eu tinha complexo em relação aos pêlos do corpo. Era peluda? Não pelo contrário (ficou engraçado o pelo contrário), eu era lisa demais. E me sentia como uma pessoa doente e sem pêlos, nem vou citar doença nenhuma para não ofender ninguém, mas na minha cabecinha, o fato de não ter pêlos fazia eu me sentir, doente, atrasada no crescimento, infantil e sei mais o quê que o meu cérebro inventou na época.

Embora as pessoas me dissessem que eu era bonita, me sentia feia, grande demais, bocuda demais, pernas grossas demais, pêlo de menos de mais e me fechava em mim mesma.

Sempre que elogiavam meu sorriso, ao invés de me sentir lisonjeada, pensava: “Ela já viu que minha boca é enorme.”

Sinceramente eu me via como uma enorme monstra, desengonçada, chamativa horrorosa.

Não entendia o assedio dos homens e rapazes, não entendia os elogios que recebia, e não entendia como poderiam gostar de mim. Ficava procurando motivos, pensava que eles queriam apenas me usar. E tornava a vida dos meus pretendentes horrorosa, porque duvidava das palavras, dos elogios, das intenções... E eles se iam cabisbaixos e tristes por terem sido mal interpretados.

Nunca acreditava na sinceridade das pessoas quando me elogiavam, sempre achava uma explicação plausível para os elogios delas. Uma vez depois de nos instalarmos em uma nova casa que meu pai comprara, a vizinha da esquina veio conversar com minha mãe e dar as boas vindas. Ela disse para minha mãe que nem acreditou quando viu que aquela menina tão linda estava se mudando ao lado da casa dela. Ela disse: “Sempre que passo em frente a loja que sua filha trabalha, paro e fico olhando para ela. Não acredito que alguém possa ser tão bonita.”

Pensei naquele dia que a mulher era meiga demais e doce e simpática demais.

Em outra ocasião conheci uma velhinha que me disse que eu era tão linda que parecia um anjo. Achei a velhinha muito doce e quase acreditei que era de fato bonita, mas daí me lembrei que ela estava achando que eu namorava o neto dela e queria ser agradável comigo.

Estou falando isso para que vocês vejam como nosso cérebro nos prega peças. Passei minha adolescência inteira e grande parte da minha juventude fechada em mim mesma por conta de complexos tolos. Tudo bem, consideremos que as pessoas exageravam em seus elogios e eu era apenas uma menina bonita; mas com certeza também não era a monstra que meu subconsciente me fazia pensar que eu era.

Quando conheci meu futuro marido, e começamos a namorar ele tentou me convencer que tudo aquilo que eu achava feio em mim, era o que o atraía. Ele amava meu sorriso, e minhas pernas justamente porque eram grossas, e até minha pele sem pêlos porque era lisinha.

Mas nem assim ele me convencia, somente aos 40 e tantos anos foi que entendi até onde ia minha confusão mental. Foi aí que percebi que perdi com tolices e medos, grande parte da minha juventude.

Portanto quando se sentir feia, ou seja lá o que for que seu cérebro esteja inventando para fazê-la sentir-se mal, lembre-se de olhar no espelho e abrir seus olhos e sentir-se e conhecer-se. Não permita que nada lhe roube a doçura e a felicidade de ser e saber quem é.