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OLHANDO PELA JANELA

         

Naquela manhã, transportando-me em pensamentos, refletia sobre a vida das pessoas que transitavam ali, nas ruas próximas, à minha frente, quando eu me debruçava bem cedo à janela.
Na calçada se presenciava a chegada do outono quando as flores e folhas inebriantes das espirradeiras, ipês e quaresmeiras jaziam no chão sob a ventania, em extasiantes cores. É sabido que em novos dias ou estações, elas retornariam a florescer e alegrar as avenidas e quintais.
Mas este não era o caso de todas as pessoas passantes, cujos destinos não se sabe se ainda poderiam reconstruir, ou se a esperança, a confiança em si mesmos e o amor poderiam ser experimentados, ou serem vãos e não tornarem a florescer; pareciam como essas folhas, tocadas pelo vento em muitas direções... a única semelhança.

Obviamente suas vidas teriam tonalidades diversificadas, indefinidas talvez, mais azuis ou não, ou simplesmente teriam grandes motivos para serem felizes ou infelizes.
Meu foco principal eram estes, pois a esperança, a fé, o otimismo e o amor é o que move todos os seres; este último, essência dos céus, de idêntico e inconfundível perfume.
Quantos que alí caminhavam em diversos sentidos e com diferentes metas, viviam um amor liberto ou proibido, verdadeiro ou culpado, ou um falso amor? Será que muitos conheceram um dia este insubstituível sentimento?                                     
Quantos devem guardar em suas entranhas um sentimento com sabor de eternidade ou mesmo sendo eterno não podendo ser vivido durante essa existência! E ainda aqueles cuja esperança no amanhã, a crença em Deus e em si mesmos já se esvaíram ante os tropeços e pedras encontradas!  
Comecei a me indagar se há tantos tropeços e erros quando o amor assola o nosso coração sem ser previsto, despontando de repente, num estalo de momento, quando dele não se pode mais fugir, nem obedecer convenções sociais e distâncias invadindo as nossas vidas.  
Considero os erros e tropeços do amor como despropositais, isentos de culpas; se esbarra em algumas frustrações sim, que certamente serão insignificantes diante da sua existência no âmago dos seres amados.
Desponta quando as afinidades se abrigam nas profundezas da alma de forma mais pura e verdadeira, onde não se empecilha, mas sobrevive no tempo e no pensamento pontilhando nossas ações, imprimindo-nos alegria em viver - sua essência corresponde ao divino e é imutável nas horas vividas.
Ele sempre irá florir em qualquer estação da vida, sem momento marcado, mas simplesmente existir.
Diante dos supostos erros do amor, o mais sensato seria a adoção do silêncio, resguardando-se como um ser mudo.  Creio que nessa esfera, somente um Ser Superior detém a sabedoria e o julgamento do que seja certo ou errado.
É gratificante ter conhecido o amor em qualquer circunstância; é bem melhor do que jamais tê-lo experimentado e doado.
Como é insubstituível a oportunidade de sentir que alguém nos sente, se comunica através da alma, do pensamento, inclusive o compartilhamento de afeições físicas, envolto numa aura reluzente mesmo que seja ao sonhar.  
Nada perderemos em tê-lo abrigado um dia dentro do nosso coração!