Camelôs de Esperanças

Talvez devesse conviver mais com as pessoas rudes e comuns, como aquelas que encontramos todos os dias nas ruas, nos mercados nos botecos da vida. De camiseta, chinelo de dedo, saia de chita, barganhando pelas esquinas, puxando os filhos pelas mãos; camelôs de esperanças. Pessoas que não são assim tão certinhas, perfeitas e comportadas, que cursaram a Universidade do empirismo e Faculdade da causa e efeito. Forjadas a ferro e fogo e lapidadas a seco.

Em geral, os certinhos, perfeitos, e bem comportados são seres monocromáticos, castradores, policiadores e até narcisistas. Não se permitem errar, pecar ou gargalhar; nem de si mesmo. Azeites, não se misturam. No fundo, parecem infelizes com suas escolhas, são cheios de verdades e senhores de si. Tenho a impressão que vigiam a felicidade alheia com falsos argumentos e com virtudes ocas, dissimuladas, usam de falsos pretextos como se quisessem zelar pelas verdades que lhes foram herdadas desde sempre. A face boa e bonita do mal.

O puritanismo me causa arrepios! Cheira hipocrisia, tortura de todo tipo e insanidade. Não vejo nada de natural nisso, muito menos na prostituição, corrupção ou ignorância.

A santificação se torna mais humana e compreensível na medida em que a encaremos como um processo e, como tal, um sucessivo despertar da tolice à iluminação, da verdade geral à verdade pessoal, um despertar na direção de uma instância futura, consubstanciada por uma fé volutiva.

Geraldo Faria
Enviado por Geraldo Faria em 15/04/2012
Reeditado em 16/04/2012
Código do texto: T3614755
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