UM JEITO DURO DE APRENDER...
Quando vim ao mundo, alguém soprou aos meus ouvidos que não seria para sempre. Existia um dia de chegada e um dia de partida... Acreditei num recado dirigido exclusivamente para mim e quem eventualmente eu visse partir já haveria vivido o suficiente para deixar um bom legado. Na realidade, o tempo justo o estaria levando, com exceção de meu pai, que me fez fixar moradia na tristeza e saudade por um tempo infinito. Um tempo que se juntou a outro e mais outro... e ontem (14/04), senti no peito uma dor que me pareceu absolutamente sem sentido. Como uma amiga, escolhida pelo meu coração há mais de 30 anos pôde comprar uma passagem só de ida? Sei que estava cansada de lutar, afinal quatro anos haviam se passado... mas a vi ganhar batalha por batalha e sempre soube que a coragem e dignidade exercida em cada uma delas significava uma grande chance de vencer a guerra.
Fica a lembrança dos intervalos entre uma e outra, quando abria os olhos e perguntava: “Você está bem? ”. Numa das noites em que eu estava por lá, ao acomodar um travesseiro em seu corpo para maior conforto, ainda ouvi: “Só rindo!” Noutra, quando não consegui entender o que desejava: um embutido Catso! Palavra acompanhada do sorriso maroto de uma adorável, divertida e escandalosa amiga, descendente de italianos! Pequenos detalhes que me fizeram sentir que ela tinha plena consciência do que se passava e de quem estava ali para lhe fazer companhia.
Um dia... no cuidado, percebi nas entrelinhas de cada respiro, que a determinação se faz no silêncio.
Penso que no decorrer desses 30 anos construímos um banco (mesmo que imaginário) do qual fazíamos uso para a troca dos pedaços de nossas vidas... Um banco que vai parecer vazio aos olhos dos outros, mas que é testemunha das infindáveis histórias e vai me ajudar a construir imagens que irão permanecer ao longo dos passeios e de tantas coisas novas que ainda devo aprender a lidar e apreciar...