Aurora Febril

Levante-se com paixão de vida... bem cedo para sentir o frio da aurora mastigar a madrugada. Arrepie com o hálito que vem do leste e sorva uma gota dos últimos orvalhos, respire bem fundo olhando em volta o silêncio que habita as horas. Deixe a fantasia despertar primeiro que os raios de sol, veja cometas faiscando no infinito com seu rabos coloridos brincando de ir e vir. Esconda-se dos cavaleiros medievais que galopam pelas ruas em nome do rei, tentando impor ordem aos notívagos que varam a noite cantando mágoas em poemas saudosos. Ouça o latido dos cães e se permita vagar pelas fantásticas invenções da mente, animais que naquele momento farejam o que olhos mortais não tem o dom de perceber. Deixe que os cães ladram uma terrível figura esquelética com cheiro podre e capuz negro no crânio perfurado com uma estaca, suas roupas estão em farrapos. E seus passos mudam com lentidão, em todos os cantos onde sombras se debruçarem sobre os objetos uma partícula desta monstruosidade inventada estará sendo perseguido pelos cães. Como nos contos de Edgar Alan Poe a morte chega de qualquer maneira ou o inusitado se rende ao cotidiano, nesse instante só poderá fugir o personagem que acaso salvara-se da Dramaturgia de Buñuel ou de Stanley Cubrick. Talvez seja ele um raptor de idéias surgidas a base de elucubrações febris. Mas não se deixe arrepiar com as doses excedentes da picardia da manhã e abra o peito com ardor de sentir tesão. Levante a mão e toque o galho mais alto de um Jequitibá que estiver pintado na parede da sala, saiba que nada melhor para começar a viver do que saber que todos os conflitos só se resolverão lá fora quando estivermos em paz aqui dentro...do peito.Ame sem medo de viver de amor.