Patriotismo de hoje

Por milhares de anos, o conceito de propriedade de enormes territórios definia o poderio das nações. Guerras de conquista eram intermináveis e consideradas legítimas. Matava-se por ganância e por um entendimento de que pátria forte era a que mandava em mais gente e em maiores extensões de terras. De alguma forma, a 2ª Guerra Mundial, com o desvario nazista da hegemonia da raça, foi o último grande conflito clássico nesse sentido.

Com a Guerra Fria, o conflito, embora constante, era mais localizado e tinha uma forte conotação ideológica, embora, no fundo, continuasse uma luta pelo domínio do mundo, e ainda se soubesse quem era inimigo de quem, mas, após o esfacelamento da União Soviética, os inimigos mudaram de nome: de um lado, o que se julga o representante do Ocidente, de outro, uma ideologia calcada em crenças religiosas fundamentalistas – Quando o fundamentalismo religioso, de qualquer crença, será extirpado do mundo para que possamos viver com mais paz? – que chama o outro lado de enviado de Satanás. Já não é mais território, são crenças, mesmo onde a terra está envolvida, como na Palestina, por exemplo.

Essa guinada para a ideologia pôs em evidência a eterna luta do Bem contra o Mal, desta vez usando outros nomes. A globalização total do comércio mudou o conceito de fronteiras e essas se adaptaram mais aos interesses dos negócios do que às linhas dos mapas.

Diante desse quadro, será que persiste o antigo conceito de patriotismo, aquele que aprendemos na escola? Ou aquele era calcado no ufanismo, na belicosidade, presentes, aliás, em quase todos os hinos nacionais, e já não faz mais sentido?

“Patria o muerte” se tornou, muito mais, um apelo fanfarrão do que um slogan, e o abandono da reunião de Cartagena por Cristina Kirchner por não receber apoio oficial à soberania argentina sobre as Malvinas, uma demonstração de populismo raso ou uma imitação da ditadura argentina quando declarou guerra à Inglaterra usando as Malvinas como instrumento, levando milhares à morte.

Talvez, agora, seja a hora de seguir o que Rui Barbosa escreveu em 1903: “O sentimento que divide, inimiza, retalia, detrai, amaldiçoa, persegue, não será jamais o da pátria. A Pátria é a família amplificada.”