DESPEDIDA DO TREMA

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

A letra “u” deixou de atrair o trema. De tanto tremer em cima do u que se pronuncia nas sílabas gue, gui, que e qui, o trema foi eliminado pela atual reforma ortográfica. Delinquencia de linguistas grandiloquentes. Afinal, como é que se vai ler: delinquência de linguistas grandiloquentes ou delinqüência de lingüistas grandiloqüentes, aguentar ou agüentar, com trema, como era antes? Só aguentando... Dois pontos, agora, só na vertical, ainda com o nome de dois-pontos. O trema foi despedido, mas salvo pelos alemães, que o mantêm no seu idioma como bons guardiões da ortografia. Mas que o trema fez história, fez. E história de utilidade. Nossos editores de textos programados ainda com o trema insistem em fazê-lo pular sobre o “u”. É o que restou. Espólio do trema. Trema, nunca mais... Não trema nunca mais...

Há mais tempo, em 1971, fizeram desaparecer também o acento diferencial. Mas que existe diferença entre sede e sêde, como era, existe. Nesses casos, creio que a expulsão desses sinais se deu mais pela incompetência ao fazer uso deles do que pela sua notória utilidade, na prática. Mas manda quem pode e acha que entende do assunto... Obedece quem tem juízo, senão fica que nem ovo sobrando de dúzia. Fica por fora do politicamente correto e é reprovado nos concursos.

Mas que o trema faz falta, faz. “Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m’a do seu vero manto régio, pela qual é senhora e rainha.” Essas palavras, escreveu-as, desassossegadamente, Fernando Pessoa. Na interpretação de Saramago, Pessoa estaria hoje contra o acordo ortográfico... Como muita gente, aliás. Entre prós e contras, manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Antônio de Oliveira
Enviado por fernanda araujo em 23/04/2012
Reeditado em 23/04/2012
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