A morte e morrer

O Imperador Romano Julio César, disse certa vez; que o que está fora da vista perturba mais a mente dos homens do que aquilo que pode ser visto. Ando perturbado, cada vez que olho em minha volta e vejo a cara das pessoas, me vem involuntariamente um pensamento sombrio. E me perco antecipando o destino que reserva a cada uma. Imagino como será o ultimo momento, quais serão suas ultimas palavras. A Igreja de São Francisco, na cidade Histórica de Évora em Portugal, conserva um santuário assombroso, inteiramente revestido de ossos humanos. Três Monges foram os idealizadores deste museu macabro no século XVII. Com o objetivo de mostrar a transitoriedade da vida. Por ano milhares de turistas passam por lá, fotografando e talvez refletindo sobre cada um daqueles emparedados, e colocando-se na mira dos holofotes quando chegar-lhes a hora de perder a pele do corpo e encontrar um desfecho igual. Quero admitir que sou mentiroso, um covarde como grande parte dos viventes,que naquela máxima de que o ataque é a melhor defesa, acaba verbalizando não ter medo da morte.Repenso tudo e agora digo que tenho. Não de deixar simplesmente de existir, mas pelos diversos fatores que agregam a esta realidade mórbida. De perder quem amamos, de ir para um desconhecido como os pesadelos que assombram algumas noites. Li uma vez um artigo de Rubem Alves intitulado “Sobre a Morte e o Morrer” onde ele dizia que tinha muito medo de morrer, pois a morte viria acompanhada de dores,humilhações e os aparelhos introduzidos no corpo, que não era sua vontade. E nada poderia fazer já que naquela situação seu corpo não lhe pertencia mais.Com muita propriedade da um grito singelo, opinando sobre o local que deveria ser escolhido para essa passagem, que seria em casa no meio das pessoas amadas. Florbela Espanca; disse que os mortos são na vida os nossos vivos. Andando pelos nossos passos, que os trazemos ao colo vida a fora e só morrem conosco. E o mistério abrasa o interior que não encontra respostas para as indagações, quando no ato do próprio medo da morte, pessoas se entregam a ela. Como o Mestre Cineasta Ingmar Bergman contou em “Face a Face” a trajetória ofegante da Doutora Jenny Isaksson com seu martírio interior até a busca da morte, que não chegou...Contrario do que esperava, suas abstrações pós a ingestão do medicamento, misturadas aos delírios constantes a Psiquiatria seguiu vivendo em suas convulsões. Só que desta vez com o temor da vida que agora lhe cobrava pelos seus atos.Enfim, o mundo que separa os dois espaços está formatado dentro da nossa cabeça, dos mortos de Florbela trazemos a saudade que peleja em deixar suas vozes, seus cheiros e suas fotografias nas nossas memórias. Do nosso destino, temos a necessidade de viver como se agora fosse o ultimo instante.