OS DEUSES DO MONTE OLIMPO VIRTUAL

A idade e a internet chegaram fora de época; para mim. Em descompasso, desconectadas, às vezes; outras dá erro 404.

A idade, esse contador de tempo implacável que ora anda depressa de mais, ora da à impressão de que parou de tão lento que anda. Ilusão; só a morte pára o tempo. A vida, coitada, que surge sebe-se lá de onde, unida ao tempo vai se agarrando nele o quanto e o tanto que pode tempo-dependente que é. Pois enquanto o tempo passa vão se acumulando saberes. Alguns da maior importância, outros insignificantes (a quem interessa saber que Zé das Couves foi à praia, que o BBB danou-se de vez, que o iene subiu 0,2% ou que a Bolsa da Chicago caiu ......) acho que isso serve apenas para desviar nossa atenção do que interessa mesmo.

Sou do tempo em que se aprendia decorando; hoje se aprende interpretando. O que é um risco danado, já que interpretar explicando o sentido das coisas sem entendê-las leva a desastrosa prática do “achismo”. É o que eu acho, com perdão da palavra! Não sei se importa saber que o Urdistão é o maior produtor de minhocas vermelhas do mundo, e que baixou o preço do semovente; a não ser que você seja o maior fabricante mundial de hambúrgueres das redes “fast food” do planeta, e deve adquiri-las as toneladas para mistura-las, e acrescentar proteína aquela coisa misteriosa que metem no meio de um pão redondo. Na minha época, e digo isso sem nenhuma intenção de qualificar aquele tempo como sendo melhor do que esse, aprendemos Latim, para saber o Português, Frances e Inglês para ler e entender o que interessa,história e geografia, para aguçar a curiosidade e os sonhos, matemática,para o gasto ou economia, química,física,para não tirar zero na prova escrita e ficar mudo na prova oral, e não mais do que isso, para quem parou no meio do caminho e foi ganhar a vida; em todos os sentidos. Saber mais do que isso se fazia com o tempo, como fiz. Quem tivesse interesse seguia o caminho que melhor lhe conviesse e prazer lhe desse.

Ocupava- mos uma parte da cabeça com dados, outra com sonhos e alguns delírios, e sobrava um cadinho pra besteiras e utopias. Mas o tempo altera essa ordem e lá pelas tantas divide a cabeça em duas partes; uma para gozar o tempo que resta, e ninguém sabe o quanto resta, e a outra para os guardados gerais, que de tal modo são tantos que, abarrotada, sem espaço, nela não cabe sequer um bit.

Foi então que chegou a Internet; melhor dizer a computação, os chineses, os japoneses, os coreanos, e os nerds que reduziram tudo a pequenos pedaços. Acabaram com pregos e parafusos, toneladas de papel, quilômetros de fios, milhares de partes mecânicas; e deram um chega pra lá na física e na química. Reduziram tudo e o computador, um monstrengo barulhento que habitava uma sala especial com temperatura polar, subiu a mesa como o nome de PC – Personal Computer e sua eficiente desktop, alias, bem apropriado. A cria do PC pode ser levada numa charmosa maleta e atende pelos nomes de notebook ou, se preferir, laptop.

Para não desviar do assunto principal dessa crônica não vou adiante, sem antes, porém me referir ao estranho cruzamento do PC com o Telefone, cuja serventia era “ouvir e ser ouvido”, frase essa que se tornou slogan de partidos políticos nanoaderentes. Pois dessa cruza saíram os smart phones. Pariram tantos e de tipos tão diferentes e com tantas utilidades, que apesar de tudo, ainda hoje se pode ouvir e ser ouvido.

“Então assim”, como ouvi diz dia desses um fulgurante deputado, enrugado de cara e de cérebro, usar esse termo “jovem e da hora” que não significa absolutamente nada.

Pois bem, voltando ao princípio, por tanto, o tempo e a Internet chegaram fora de época para mim. E digo por mim para não generalizar pela geração inteira, porque não somos todos iguais, mas que aos pouco vai chegando ao fim.

A parte de armazenamento do cérebro, hoje pode ser sublocada, e o que se guardava nesse compartimento, antes tão valorizado, hoje se coloca em HDs, Pen Drives, CDs e em outros “devices” e não se elogia mais ninguém como quando se dizia: mas que memória o senhor tem, hein?.

Muito bem, o cérebro serve para raciocinar, e sempre foi assim, exceção à proeza que fazem políticos e assemelhados a usarem a bílis, o pâncreas e em geral o intestino grosso como meio de concatenar ideias, promessas, expressões tão desavergonhadas como “mal feito” para substituir sem-vergonhice. Desde as plaquinhas de barro e suas marquinhas cuneiforme, passando pela invenção das letras, dos números, das pinturas em cavernas, das esculturas e tudo o mais que serviu para mostrar o pensamento e os feitos dos homens, como todos sabem, temos encontrado maneiras de guardar o conhecimento. Os museus e as bibliotecas estão por todo o mundo como se fossem primitivos e gigantescos HDs contando a nossa história.

Os telefones, que encurtaram distâncias, acabaram com o telegrafo, que já havia eliminado o mensageiro a cavalo, já não podem mais serem chamados assim porque, quando o são, e só de raiva dão sinal de ocupado ou, como última deferência ao desaforado falante, “dizem” que estão fora de área. Por tanto chamem-nos de “Celular”, ou “Cel” em qualquer lugar se estiver fora do Brasil.Em Portugal,porém, digam “Móvel”.

Assim sendo, com boa parte do cérebro desocupada de arquivos e pastas, busco novidades que quero na internet, uma espécie de Monte Olimpo Virtual, onde habitam deuses e deusas que, mais uma vez, foram criados pelos homens e são venerados, curiosamente, com a mesma misteriosa dedicação que seus antepassados receberam por milênios. E sobre nossas cabeças estão Google, o deus sabichão; sabe o que é, onde fica, o que faz, permite contatos entre humanos e outros poderes que não nos revela. Numa disputa por quase todos os mesmos poderes, porém discretamente, está a deusa Wikipédia; ela responde tudo sem nenhum castigo e o que não sabe convida-nos a responder; uma inacreditável deferência aos humanos. O deus Face Book alimenta os exibicionistas e o deus Twitter a todos os fofoqueiros e voyeurs virtuais. Esses dois deuses levam vantagem sobre os demais quanto à popularidade e quantidade de adoradores. O deus Blog, o mensageiro, é o porta voz dos humanos entre os próprios humanos. Leva e trás qualquer coisa, publica irrelevâncias, bobagens e não seleciona o que convém nem o que de fato é relevante. O deus Blog é “politicamente correto”, “diferenciado”, “democrático”,”homoefetivo”, “bovinoefetivo” e “efetivo” já que nestes tempos de hoje não há necessidade de intermediários para chegar ao supremo Google, The God of gods.

São todos deuses bons, prestativos, e nos levam por ai a fora se queremos buscar algum saber ou saber qualquer coisa. Não substituem um humilde livro de papel, é claro, que adora ser olhado, perscrutado e acariciado e guardado, mas a vista de todos. Não substituem nada, na verdade, ajudam muito, muito, muito.

Navegando, voando ou sei lá de que maneira mais se pode fazer isso, por esse universo do século XXI chama do de Cyberspace onde habita a internet, de quem herdamos o horroroso qualificativo “internauta”, também estamos expostos a malignos deuses, já que sem o mal o bem não existiria. São deuses menores que não habitam num, Monte Divino, mas em Cavernas Tecnológicas escondidas em locais “incertos e não sabidos” como gostam de escrever repórteres que não sabem os locais certos por onde se escondem os bandidos e outros sacripantas.

Dizem que são deuses caídos que não perderam totalmente os poderes de deuses em pé. São poderosos e existem com um único objetivo; fazer mal a humanidade e usa-las como instrumento de ataque aos deuses da Internet. A lista é grande e recordo apenas os mais conhecidos: os Hackers e os Crackers; que se detestam e não gostam de serem confundidos; cada um é o que o outro não é. Esses deuses criaram os “Time Bomb”, os “Virus de Boot”, “Worms”, “Trojan” – que gerou o “Phishing” -, “Hijackers”, “Splog” – um falso Blog, “Spywares”, “Blended Theats” e sabe-se la se nesse momento não estão sendo criados outros “cyber diabetes”, pois, incompetente que sou conheço apenas um tiquinho do Panteão dos Deuses Informáticos.

Tivesse eu mais tempo e umas doses a mais de paciência, escocesa ou polonesa, liberaria meu natural HD de quardados, para usar esse espaço para novos sonhos, novos conhecimentos e se pudesse, expandiria a RAM, que como o HD é Device natural da minha cabeça desde quando nasci, para armazenar mais felicidade. Ai sim usaria só a felicidade o tempo todo.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 25/04/2012
Código do texto: T3632425
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