A MULHER DE ROXO

Durval Carvalhal

À Selma Santos


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        Quem viveu em Salvador nas primeiras décadas da segunda metade do século passado conheceu a “Mulher de Roxo”, uma lendária criatura vestida com um manto roxo, que vivia no centro de Salvador, sobretudo, na elegante e movimentada Rua Chile.

          Muitas histórias eram contadas sobre a vida dela, cuja principal era a de que havia sido abandonada na igreja pelo noivo. Tinha a expressão triste e serena; quando passávamos perto, ela dizia: “Me dá um diheirin!”.

          Agora, de abril até 06 de maio de 2012, no teatro Martim Gonçalves, tradicionalmente conhecido como Escola de Teatro da UFBA, está sendo apresentada a peça “a Mulher de Roxo”, representada, acho eu, por uma das grandes atrizes da Bahia, Selma Santos, cuja direção é de Deolindo Checcucci, unindo, numa história candente, poesia, música e dança.

          Conheci Selma nos idos de 1973, quando entrei no Banco do Nordeste, numa atmosfera de enorme efervescência político-cultural em Salvador e no Sindicato dos Bancários da Bahia. Ela era bem novinha, talvez 18 anos e trabalhava no Banorte, se não me engano.

          Já se revelava grande atriz e eu não perdia suas peças. Cheguei a lhe prestar pequena, mas sincera homenagem no meu livro UM POUCO DE PROSA, através da crônica SELM(inh)A.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3631206

          Ela é uma artista forte, determinada e desafia a si mesma. Sempre acha que não fez o seu melhor trabalho; por isso, está sempre tentando aperfeiçoar seu desempenho.

          No palco, Selm(inh)a transmuda-se, nega-se totalmente para se identificar com a personagem que representa; daí, suas atuações carregadas de simpatia, elegância e graciosidade.

          É humilde, humílima até, e não se acha mais do que é. É uma grande dama do palco, porque tem talento, beleza natural, caráter, carisma, simplicidade e personalidade.

          Na hora do espetáculo, ao abrir as cortinas do palco, a surpresa é agradabilíssima, pois vemos uma Selma vestida de boa interpretação, independentemente da excelência do figurino, do deslumbramento do cenário e do primor do texto. Tudo isso é suplantado pela entrega de uma das maiores atrizes que a Bahia já teve (e tem). Ela sabe sobejamente que o teatro é a arte do ator. Eis porque, em cena, ela ser plena, cabal e absoluta.

          Diz Paulo Autran: “O ator tem de se entregar de corpo e alma, ser visceral, buscar nas entranhas, a melhor parte que a personagem solicitar”. E é exatamente isso o que Selm(inh)a sabe fazer... e faz muito bem...
 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 26/04/2012
Reeditado em 09/09/2015
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