COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES

“não se pode dizer que os brancos em piores condições financeiras têm as mesmas dificuldades dos negros, porque nas esferas mais almejadas das sociedades a proporção de brancos é maior que de negros” (Rosa weber- Ministra do STF).

Anos setenta, solenidade oficial de formatura da Faculdade Federal de Medicina do Triângulo Mineiro, mais precisamente, às 20:30 horas da segunda sexta-feira do mês de janeiro. No suntuoso auditório do cine metrópole de Uberaba MG, a platéia ouvia de pé os últimos acordes do Hino Nacional brasileiro, magistralmente executados por André Novais, um pianista da cidade. Depois, um silêncio sepulcral abateu-se sobre os mais de 2000 espectadores naquela noite festiva. Quebrado pela voz potente do locutor oficial, convocando os formandos, um a um, a se aproximar da mesa diretora para receber o diploma de médico.

Eram mais de 50 rapazes e menos de 10 moças que se diplomaram naquela noite. Quando o nome do “Doutorando” era pronunciado, os aplausos eram ouvidos. Uns mais, outros menos, dependendo do número de parentes e amigos existentes na platéia. De vez em quando, a intensidade das palmas aumentavam, eram para as formandas. Até então, Medicina,uma profissão de homens, mulheres doutoras, era novidade.

Como não cheguei cedo, tive que contentar em ficar bem no fundo. Na minha frente, havia muitas pessoas em pé, que como eu, não conseguira lugar nas luxuosas poltronas do prédio. Tudo isso, dificultou-me a visualização da colação de grau. Com clareza mesmo, eu só ouvia o nome seguido dos aplausos. Assim, ia transcorrendo aquela solenidade, como tantas, em nosso Brasil.

De repente, a ovação foi sonora e persistente, bem diferente das demais, mais de um minuto. Com muita dificuldade, vi entre os ombros daquelas pessoas que se amontoavam nos fundos, a figura de um rapaz que se dirigia para receber o seu tão sonhado diploma. Ia devagar, pois usava muletas, não tendo uma das pernas. Daí a pouco, novamente com grande intensidade, a platéia manifestou-se com euforia. Pensei tratar-se de outro deficiente físico, contudo era um rapaz alto e aparentemente saudável, que recebia naquele momento, o diploma de médico. Apenas um detalhe o diferenciava do restante da turma, era NEGRO...!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 26/04/2012
Reeditado em 26/11/2012
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