RUAS MOLHADAS

RUAS MOLHADAS - Maria Teoro Ângelo

Tenho observado nos filmes um detalhe. As ruas aparecem molhadas como se tivesse acabado de chover. Enriquece o cenário quando é dia porque sugere limpeza e frescor. Quando é noite funciona como uma base espelhada que multiplica o efeito das luzes dos carros e das ruas. Nos dois momentos enriquece a fotografia, a imagem que se vê na tela.Já uma chuva forte é fator complicador, que aumenta o suspense e dificulta a fuga do herói.

Do lado de cá da tela a imensidade de chuva que está caindo nos últimos dias deixa graves conseqüências.

Alarmados pelos prognósticos de que em vinte anos vai faltar água potável, a chuva é bendita quando enche os rios, as represas, as lagoas, revigora as florestas e faz crescer o grão. Mas assim, da maneira que cai, sem parar, traz o caos, a desgraça, a morte.São casas destruídas, pontes ameaçadas, estradas intransitáveis, interditadas pela terra que rola das encostas, animais mortos, lavouras perdidas, gente morta, afogada, soterrada, levada pela correnteza.Roupa mofando no varal, goteiras indicando que o nosso telhado também é de vidro, o lodo crescendo nas bases dos muros, abrigos improvisados, gente que perdeu tudo, sem rumo, sem ter para onde ir. A chuva complica a ação de todos nesse filme improvisado e terrível. A chuva cai impiedosamente sobre nós.

Não há previsão de sol e já estávamos avisados de que, de agora em diante, as chuvas serão inclementes, as tempestades furiosas, o sol impiedoso. O calor e o frio exagerados.A culpa é do homem que desmata e polui. A União Européia resolveu tomar medidas, mas os EUA, que nem assinaram o Tratado de Kioto, não se manifestaram.

Ficamos sem argumentos diante das crianças e dos jovens porque a televisão mostra florestas únicas no mundo sendo transformadas em carvão. Que dimensão teria plantar uma árvore ou não jogar lixo por aí?

Precisaríamos aumentar em 20% a plantação de cana-de-açúcar para produzir mais combustível , prejudicando as outras colheitas. A justiça equivocada pune quem corta uma árvore e é cega diante das cenas que a televisão não se cansa de mostrar. Atrás do bem e do mal há uma rede intrincada de poderosos , de manutenção da economia e do modo de vida a que estamos acostumados e que ninguém quer modificar.

Mas essa chuva que castiga muitas regiões do Brasil é culpa nossa, que como na canção popular,” pedimos para chover, mas chover de mansinho. Com certeza não pedimos direito, não soubemos fazer oração. Será que o Senhor se zangou e fez cair toda a chuva que cai?

Perdoe eu encher os meus olhos de água, desculpe eu pedir a toda hora para acabar com o inferno e o sol voltar a brilhar.”

As ruas já estão molhadas demais!

Janeiro de 2007

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 30/01/2007
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