Uma aula de Sociologia


        Amigo leitor, recebi uma vaia!... Sim, dos meus colegas da aula de Sociologia. Puxa-vida! Isto porque sou favorável à globalização, diferentemente do sociólogo Pierre Bordieu. Mas convenhamos: ele viveu na França e eu me referi ao meu país.
        A ideia de globalização foi bem especificada na morte de Lady Diana: “Ela era inglesa, com namorado árabe, acidentou-se em Paris num carro francês com motor alemão, o motorista era romeno, foi perseguida pelos papparazzi italianos e socorrida por um médico brasileiro”. Até aí tudo bem.
A globalização permitiu que nós deixássemos de ser súditos dos States, e pudéssemos consumir as câmaras fotográficas japonesas, ter carros russos, comprar perfumes franceses, bacalhau norueguês, celulares da Suécia, ou camisetas italianas, enfim, uma variedade de produtos jamais vista. Daí que veio uma pergunta geral: -“Então, você concorda com essa padronização, todos com o mesmo jeans, o mesmo tênis?” - Não, claro que não!
        Essa coisa de todos copiarem o mesmo modelo foi bem retratada no filme “Matrix”, que eu achei absurdo quando o assisti. Hoje, vejo que de fato, tinha tudo a ver com o que a informática nos presenteou. Se, por um lado, o acesso a tudo que queremos pesquisar está a um clique da nossa mão, é fatal uma alienação da sociedade. Como no filme, todas elas querem ter o corpo parecido à custa de botox, sim, ter o corpo magérrimo, e eles todos malham nas academias, e se formos analisar, chegamos à padronização dos corpos que é muito pior que a padronização da roupa. E aí, vem o mais deprimente: Google virou o “oráculo” de hoje. São Google! Me diga: você passa uma semana sem consultar o Google? Seu filho estuda uma disciplina sem consultar o Google? Se até meados do séc.XX as pessoas procuravam uma religião, um apoio num Deus monoteísta ou qualquer crença que fosse, hoje qualquer dúvida... meu amigo, vá na internet, lá tem todas as respostas. Será que estou exagerando?!... Tudo gira em torno da informática, da internet, dos celulares. Dos mais abonados aos mais carentes não tem quem não tenha um celular.
        Pra mim, felizmente, a França não aderiu inteiramente à globalização, tanto que se você for pra lá passear trate de falar françês, caso contrário, eles te darão as costas. E também, estude o Linux, pois o sistema de informática deles... acredite, não é americano! E se você quiser entrar para ONU, que é uma organização americana, estude inglês e  francês, além de que, tem de ser “atirador de elite”, fardado ou não. A Cruz Vermelha é italiana, e as grandes óperas foram escritas em italiano, portanto se você quer estudar ópera, aprenda italiano.
        A supremacia americana está fenecendo, tanto que a outrora gigante Kodak faliu. Podemos comprar vinhos do Chile, azeite de oliva da Itália, quinquilharias e caixinhas de música da China, roupas de lã de lhama do Peru, kinoa da Bolívia, chapéus do Panamá e etc.
        - Que horrível... agora tudo vem lá da China! – encheram-me os ouvidos meus colegas estupefatos com minhas opiniões. Mas, o erro é do departamento de Economia brasileiro que está permitindo tal discrepância. Deixar que nossos produtos sejam menos valorizados que as porcarias chinesas é tenebroso. Mas, a culpa não é da globalização.
        Quando me sobra tempo, eu acesso os museus do mundo, baixo livros de qualquer país através da Biblioteca digital mundial, e os leio com satisfação. Assisto filmes da Itália, do Irã, de Israel, da Romênia, os que venceram nos festivais de Cannes, Berlim e Veneza, e já não sou obrigada a engolir aqueles enlatados americanos insuportáveis. Não é bom demais isso?
        Nosso cotidiano é peneirado pelas ciências sociais. Gosto de pensar que podemos achar soluções para os problemas de hoje, mais cedo ou mais tarde. Claro que, um mundo de aparências povoa a mídia, e uma superficialidade é despejada sobre nós.
        Não fosse a informática, os países do norte da África ainda estariam sob o domínio de ditadores corruptos perpetuando-se no poder. Também, não teríamos o julgamento e condenação do último ditador da Serra Leoa no Tribunal de Haia na Holanda, recentemente. A nação “afro” viu sua valorização cruzar os quatro continentes graças à globalização. Isso é real. Temos até companhias aéreas que voam à África do Sul, coisa que não acontecia há vinte anos atrás.
        E a Interpol!... Que ideia bárbara!... alguém decidiu que chega de acobertar políticos sujos de países que não os punem devidamente. Feito um cadastro mundial, muita coisa foi posta às claras! Vai aquele sujeito barrigudo lá de São Paulo (e tantos outros), de nariz empinado, cheio de guarda-costas, com a mala recheada de dólares (surrupiados do povo) tentar entrar nos States?!... será preso! Bendita Interpol!
        Bom, se a globalização nos trouxe também coisas ruins, faz parte... ela já está aí... Então, resta-nos aceitá-la e ver com bons olhos todas as coisas positivas.


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                                                                       Izabella Pavesi