Mudança de hábito

Anteontem, 29/04 por ocasião de um evento que tivemos na igreja, me coube ajudar assar uns 90 espetos de carne, o que fizemos numa “churrasqueira” improvisada no pátio atrás do prédio onde congregamos.

O mesmo é alugado e contíguo tem algumas peças onde pode morar uma família não muito numerosa. Alguns membros da igreja usaram quando necessitaram, mas, agora está desocupado há algum tempo.

Em meio ao labor senti necessidade de ir ao banheiro, e titubeei um pouco, mas, o chimarrão pedia passagem, tive que ir. Passei pelas peças desocupadas, ganhei a sala principal da igreja e fui ao banheiro que fica na parte dos fundos.

Depois que voltei aos espetos que pilotava foi que me dei conta que a casa desocupada, além de quatro peças, tem um banheiro. Eu andei mais de 25 metros, tendo um a cinco de onde eu estava.

Acontece que nunca tinha usado aquele, e minha ideia de banheiro era o de uso costumeiro.

Isso me fez pensar no condicionamento do hábito, e a dificuldade em rompê-lo.

"As cadeias do hábito são, em geral, pouco sólidas para serem sentidas, até que se tornem fortes demais para serem partidas." Disse Samuel Johnson

Aliás, a palavra hábito, já vem de habitar, residir em nós; e quem sairia “de casa” sem um bom motivo? Não me refiro, por exemplo, aos usuários de drogas, pois, isso soa mais a um estupro psicológico, antes que, mero condicionamento. Mas, aos “normais” que se acostumam a um modus vivendi e aquilo se torna um molde, ao qual todas as demais coisas devem se encaixar.

Quer me ver “P” da vida, basta me dizer que preciso de um peru de Natal, de lentilhas e roupas novas para a virada do ano, chocolates para “páscoa” esses “gessos” culturais, aos quais, sucumbimos sem sequer perguntar, por quê...

Ocorreu-me uma frase de George Bernard Shaw que diz: “quando penso nas coisas como são, eu pergunto; por quê? Quando penso nelas como não são, eu pergunto: Por que não?”

Não que fazer as coisas de modo diferente ou pelo prazer de mudar, seja, necessariamente uma postura sábia; mas, ponderar a razão do que fazemos, pode ser uma atitude libertadora.

Mesmo na igreja, tenho tentado romper algumas amarras que são filhas do “sempre foi assim”. Isso quanto ao modo do culto, pois, no que se refere ao teor da mensagem, não comporta mudanças, afinal, “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente” Heb; 13; 8

De certa forma somos contraditórios pois, mudança soa aos nossos ouvidos como música; entretanto, o hábito nos prende como grilhões. Alguém disse: “sentimos nas mudanças certo alívio, ainda que estejamos mudando para pior.”

Os políticos, sabedores disso, cantam sempre a mesma canção: Os que estão na oposição, quando a campanha começar, trarão a inédita frase: “Chegou a hora de mudar”. Os que estão no poder, por sua vez, dirão: “Para continuar mudando”.

O fato é que, ganhe Juca ou Manduca, a joça não muda nunca. Sei que há muitos hábitos saudáveis que convém manter; mas, os que são filhos da preguiça mental já está na hora de dar um pé na bunda, uma vez que podemos fabricar nossas próprias besteiras sem carecê-las pré-fabricadas.

Grande parte das contradições sofridas por Jesus deveu-se ao fato de Ele romper costumes arraigados no meio dos judeus, que não ocupavam em saber o porquê das coisas. O Senhor curava um cego em um sábado e eles ficavam furiosos, em vez de exultantes pelo milagre.

A observância do dia santo era mais importante que o socorro de uma vida. O Mestre ensinou: “O sábado, (descanso) foi feito por causa do homem”. O cuidado amoroso para com o homem era o objetivo de Deus, o resto, era só um hábito desinformado.

Claro que, em se tratando da conversão, a “mudança de hábitos” é deveras radical, como versou Paulo: “Se alguém está em Cristo nova criatura é; as coisas velhas passaram e eis que TUDO se fez novo.” II Cor 5; 17

Isso não se dá, contudo, de uma hora para outra; antes, é demorado processo, coisa para valentes aliás, como ensinou Salomão: “O que governa seu próprio espírito é mais forte que outro que conquista uma cidade.”

"A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau." Mark Twain