Berço da Coragem

Em alguns dias, a nação brasileira passará por uma das comemorações mais nobres e dotadas de valentia, de encontro a isso: um dia de pouca notoriedade. Essa data é, por homenagem, intitulada “Dia do Exército”, cujo por do sol memorou no ano de 1648 a 1ª Batalha dos Guararapes, onde se notara a primeira mobilização nacional – num sentimento de pátria – bélica. Cerca de 2.200 soldados brasileiros derrotaram um exército de cinco milhares de holandeses, uma heroica disputa digna de produção hollywoodiana; a qual precisa, porém, ser conhecida pelos brasileiros e não apenas correr suas cotidianas 24 horas de apenas nome.

A União Ibérica, evento que marcou a unificação das coroas portuguesa e espanhola, influenciara as características políticas no Brasil do período de 1580 a 1640. Com essa união, não só a Metrópole Portugal, como também suas colônias, adquiriram os problemas e entraves que a coroa espanhola possuía, como a guerra à Holanda. O Brasil, como colônia portuguesa a qual agora era subordinada à espanhola, sofreu a primeira tentativa de conquista holandesa em 1624, os holandeses visando o poderio produtivo de açúcar do Brasil, sofreram a resistência brasileira, fracassando em um ano de muita contranitência nacional. Em 1628 com um ato de pirataria em um roubo a um navio de prata destinado à Espanha, a Holanda dispôs de recursos para em 1630 conseguir dominar Pernambuco num reinado indigno do ouro em seu brasão.

É perceptível a evolução e mutação decorrente de uma disputa, de uma instabilidade. Índios, escravos e luso-brasileiros, classes tão distintas e distantes, uniram-se por um ideal, como em química o hidrogênio junta-se ao oxigênio para aproximarem-se da nobreza de valência. Lutamos naquele cenário, com a bravura, organização e destreza, não condizentes com a nossa disponibilidade de efetivo e experiência, graças a nossos diferentes e unidos antepassados, nascidos nesta pátria; podemos usar hoje, graças a eles, na primeira pessoa do plural, verbos como “lutar”, “persistir”, “propugnar” e “gladiar” acompanhados com adjetivos como “bravura”, “raça”, “pureza” e “justiça”.

O exército até hoje então denota esse braço forte, essa imponência e pureza de paz. Não aquele conceito de paz distorcido, assemelhado à covardia do conforto, a paz não como ausência de conflito, mas como algo que permite justiça nas inconstâncias e mudanças. Não existiríamos se não disputássemos, se não houvesse inconstâncias, mudanças, mutações, na mais mínima escala entre hipertônicos e hipotônicos, quanto na dimensão entre gregos e troianos. Temos hoje, garantidas, a pureza ou paz nas disputas, quem permite e pondera com braço forte isso é somente um exército, hierárquico e disciplinado, assim como o direito pode ser puro quando estruturado em regras, o exército com sua positividade também. Existem os tolos, existe o ladrão, há quem se alimente do que é roubo, e há o exército, aquele que guarda nossos tesouros, aquele que consubstancia a esperança de um povo. O berço da nossa coragem.

Matheus Santos Melo