VER TV

A televisão, meio de comunicação amado e odiado provavelmente nas mesmas proporções, deve-se admitir, mudou e ainda vem mudando o mundo, assim como o mundo também muda a televisão.

Não dá mais, por exemplo, para manipular uma informação ou manter um fato mentiroso por muito tempo quando se tem a internet, telefones com câmeras fotográficas e tantos outros meios de comunicação que democraticamente agilizam a divulgação de informações, sem discutir aqui a qualidade delas, e a televisão é obrigada a acompanhar esse fato.

A primeira televisão lá de casa era em preto e branco, com caixa de madeira envernizada e ainda tinha válvulas. Eu grudava no meu pai quando a televisão pifava e ele tentava consertar porque daí ele abria o fundo da “caixa” de madeira e eu podia ver as válvulas, algumas delas de vidro e com luz. Eu ficava maravilhada com aquela parafernália toda.

Lembro que eu tentava achar os personagens dos programas que eu assistia, porque meu criativo pai me dizia que as válvulas eram prédios e que os personagens da tv moravam lá dentro.

Perguntei outro dia a uma colega qual era o primeiro programa de televisão que estava guardado na lembrança dela e ela respondeu: Vila Sésamo! Qual é o seu?

O primeiro importante programa de televisão que está guardado na minha memória é um jogo da Seleção Brasileira, da Copa de 74, em que minha professora do 1º ano do antigo primário, Dona Marli, já conhecida da família porque havia lecionado para a minha irmã mais velha também, foi em casa assistir a um dos jogos.

Minha lembrança é de surpresa pela exagerada aflição dela assistindo a um simples jogo de futebol, pelo menos era como eu via naquela época. Além disso, a transmissão não passava de uma imagem onde mal se viam alguns borrões correndo para lá e para cá, em preto e branco, a imagem multiplicada e naquele dia ainda tinha chuviscos para definitivamente não se identificar praticamente nada.

Eu, no alto dos meus 9 aninhos de idade, não entendia bem porque os adultos, principalmente a minha professora sempre tão elegante, linda, contida, calma e delicada, roia unhas desesperada por conta daquele mísero joguinho.

Depois a novidade foi a televisão a cores! Um espetáculo!! Como não tínhamos dinheiro para comprar uma televisão colorida, meu pai, com aquela mesma criatividade, foi convencido por algum larápio a comprar uma tela com faixas coloridas para fixar na frente do tubo de imagem da tv, isso para ver “tv a cores”. Ele logo percebeu que o resultado era absolutamente ridículo e a tela inútil.

Passado muito tempo minha mãe conseguiu comprar uma tv colorado RQ, acho que era esse o nome. A oitava maravilha do mundo e alegria da casa toda.

Quando televisão não era mais novidade na minha casa, lembro do meu pai assistindo programas de debates ou notícias, os quais eu achava chatíssimos e agora quem acha chato é a minha filha lá em casa quando eu assisto a tais programas.

Ainda na infância, só que mais mocinha, eu estudava à tarde, então acordava lá pelas 10 horas, tomava café com meus irmãos e depois ia assistir tv.

Eu assistia o Globo Cor e a séria que eu mais gostava era Terra de Gigantes. Muito legal! Eu gostava também de Perdidos no Espaço, mas Terra de Gigantes era melhor.

Ficava viajando na possibilidade de existirem mini humanos na grama do jardim de casa, ou talvez quem sabe fossemos nós os mini humanos e poderiam existir gigantes que ainda não tinham nos encontrado. Eram séries de ficção científica, talvez mal feitas, talvez até tolas para os tempos atuais, mas eram do tamanho exato, cabiam certinho na minha criatividade e na minha inocência de criança.

Eu também gostava muito da Corrida Maluca. Adorava quando o Mutley sacaneava o Dick Vigarista, e também quando a Quadrilha da Morte salvava a Penélope Charmosa.

Já adulta me apaixonei pelo Fantástico Mundo de Bob e bem recentemente pelo desenho Doug, e seu impagável cachorro Costelinha (este desenho é americano e tem como origem um livro que nunca foi publicado, veja só), além de Shaun o Carneiro, animação em massinha de modelar aliada à técnica de stop motion (os movimentos são fotografados quadro a quadro e depois montados em película cinematográfica), que impressiona pelos detalhes das cenas, pela criatividade e bom humor das histórias. Show de bola! É transmitido pela Cultura aqui em São Paulo.

Ah, gostava também do Castelo Rá Tim Bum, principalmente do quadro com o ratinho que tomava banho cantarolando uma musiquinha bem legal (também este era feito com a técnica da massinha).

É verdade que eu sou suspeita porque, não sei se deu para perceber, adoro desenho e animação. Quem gostou de Monstros S/A, A Fuga das Galinhas, Vida de Inseto, Os Incríveis, Shrek, e outros nessa linha sabe do que estou falando.

Outra que abusa na criatividade é a série dos Flintstones. Já prestaram atenção nos utensílios domésticos deles? E nos equipamentos de alta tecnologia? Hilários!

Mas tem também as séries americanas em filme. Eu gostava muito da família Dinossauro e ainda gosto de Friends, Two and a Half Men e The Big Bang Theory.

Sem falar na tv brasileira, apesar de tantas críticas da nossa parte, considerada uma das melhores do mundo com suas novelas, jornalismo, programas de debates e de humor. Gostava bem de Sai de Baixo, Casseta e Planeta, os Normais e gosto de Tapas e Beijos, da Grande Família, do CQC, do Roda Viva e do Café Filosófico.

Hoje a tv pode ter imagem com alta definição e em terceira dimensão, para alegria dos telespectadores e desespero dos atores e atrizes por conta dos inúmeros detalhes indesejáveis que estas funcionalidades denunciam. Quem poderá salva-los das nítidas ruguinhas, celulites, estrias e manchas na pele?

Vi há algum tempo atrás, num desses programas de debates que comentei antes, um especialista em tecnologia falando que a televisão está com seus dias contados, pois a evolução tecnológica irá acabar com a necessidade da tv por conta dos computadores e das novas formas de transmissão de informações, dados e imagens.

Mas aí pensei com meus botões na minha santa ignorância: será que as opções mais modernas serão tão acessíveis assim em pouco tempo? Será que já, já, qualquer Zé da esquina vai poder adquirir computadores com mega monitores de alta definição, ou tablets, ou iPhones, ou sei lá que outro equipamento top de linha com 432 funções, a maioria desconhecidas ou não utilizadas por seus donos, para assistir seus programas favoritos? Tomara!

Mesmo assim, ainda me pergunto: será que faz diferença o tipo de equipamento que vamos utilizar? Ou o que nos interessa mesmo é a qualidade da transmissão e do conteúdo do que temos para assistir?