Percepção

Nunca havia penetrado tão fundo numa reflexão, nem seria essa a palavra mais exata, na verdade eu devo usar o termo percepção. Raros são os momentos em que percebemos no âmago do nosso ser, a nossa caminhada pela vida, a nossa história. Com os olhos sem camuflagens, sem viceiras.

Fechamo-nos para retrospectivas, por medo de nos atermos ao que nos convém, apenas.

Nunca havia dado conta de quão feliz eu sempre fui e ainda o sou. Nasci perfeita, num mundo todo preparado com o maior esmero e primoroso para minha adaptação. Caminhos arborizados. Perfumes e uma multiplicidade de cores por todos os lados. Sons de pássaros que embalam meus passos. Uma família com um pai amoroso, uma mãe tão quanto, irmãos e irmãs igualmente. Parentes e amigos. Mesa farta. Roupas e calçados. E até seres que trilharam meu caminho, fazendo-me conhecer que sou capaz de amar. De viver um amor puro. Um amor que transcende a carne. Um amor que me faz sentir divina.

Como não ser feliz, ao arrancar a venda de meus olhos, tirar os tampões dos ouvidos e ter a consciência de que não sou somente humana?

De que em mim existe bem mais que eu mesma numa célula, num átomo imperfeito?

Sabedoria para ter essa compreensão, essa aceitação tão satisfatória e gratificante.

Quantas pedras removidas. Quantos percalços pelo caminho. E ainda assim eu vencia. Lado a lado com minha própria energia que movia-me pela fé, pela crença no meu escrito. Pois escrevo afirmando a presença viva, atuante e constante em meus passos rumo à perfeição.

Só resta-me agradecer e louvar a Deus, pois como eu seria se não tivesse essa fé?

Minha boca emudecia e ainda silencia-se ao ouvir questionamentos, muitas até já afirmações, ressaltando o crer, o acreditar, o ter fé no que é invisível. Risos se desprendem de meus lábios, ao observar como somos moldados pelo tempo. Cada qual...A cada qual de nós é dado o tempo que necessitamos para realmente usufruir do dom da visão, da audição...De todos os sentidos do nosso corpo físico e da nossa alma, que transcende as sensoriais sensações da mat[éria.

Louvo a Deus por ser a maior gota do oceano, o mais grado dos grãos de areia, a mais profunda das raízes, a luz de brilho mais intenso, mesmo vivendo como a menor de todas as capacidades.

A capacidade de ter, de ser a perfeição..

Quão feliz eu sou, ao me ver com meus sentidos mais limpos, mais puros e transparentes a mim mesma, mais virado pro lado direito da página de minha trajetória. Minha caminhada é rica em demonstrações de que nunca caminhei só, tampouco sem amparo.

A mão de Deus guiou-me até onde estou e não existe palavra a ser escrita, com tinta ou mesmo com sangue, em folhas de papel, ou nas areias do mar, nas pedras cimentadas, menos ainda tatuadas nas verdes folhas das várias partes de mim, espalhadas no universo para retratar a união da criatura com o seu criador. O sentimento que se faz nascer dentro e fora de tudo o que sou.

Deus me consome e sou devorada e também devoro numa troca de amor e paz, sem interpretação, sem limite de um entendimento considerado a quem ler tal texto, como sendo um texto racional.

Mas para que viver embasados numa racionalidade, se a razão muitas vezes nos foje sem encontrarmos uma explicação?

E porque para tudo tem que haver uma explicação?

Basta o que nos alimenta e nos faz continuar, pois cada novo caminhar tem a sua causa e o seu efeito. Efeito nem sempre dado a devida atenção, porque ainda não atingimos o nosso tempo, que também não podemos administrar e concerteza não podemos pular...Mas que estamos a vivenciar.

Esssa percepção de ser bem mais que um simples complexo existencial, vai com o tempo aprimorando, facilitando-nos a coordenação do nosso entendimento do além.

Além da nossa vã filosofia.