Por que hoje é sábado
Do alto da escadaria olho a rua. Hoje é sábado. As pessoas passam. Algumas não têm pressa. Hoje é sábado. Outras caminham mais lentamente como se passeassem. Hoje é sábado. Roupas coloridas, profusão de abrigos e tênis.
Quase todas que não têm pressa, trazem a mão uma cordinha e desfilam pela rua animais de todas as pelagens, plumagens, formas e cores.
Em que momento da vida esses animaizinhos se tornaram suas companhias constantes? Os homens do mundo moderno, nas grandes cidades, moram em apartamentos pequenos, são sós e têm a companhia de seus animaizinhos.
Levanto os olhos e olho as sacadas dos prédios. Quanto cimento! Quantas vidas entrincheiradas, encimentadas. Empilham-se. Não cumprimentam os vizinhos. Homens e mulheres são indiferentes aos de sua raça. Parecem seriados. Pequenos personagens de desenhos que animam-se. Gestos iguais. Todos com uma cordinha nas mãos.
Tenho que admitir que o amor não é algo mais que perfeito. O nome disso é pretérito. O amor é outra coisa.
Caminham quase que da mesma forma. Vão parando aqui e acolá, conforme o animal lhes coordena a marcha. Apenas conversam com seus bichinhos. Sussurram e afagam. Outros reclamam da educação do bichinho, admoestam suas peraltices. Sorriem de suas graças. Uns de gravatinhas de bolinhas, amarelas, vermelhas, azuis, outros com enormes laçarotes que lhes atrapalham até mesmo a marcha, mas que fazer? É bonitinho.
Os humanos evoluíram?
Talvez pela adesão dos sites de relacionamentos. Relacionamentos mediados por telas de computadores. Relacionamentos condicionados a botões e teclas. Curto? Comento? Compartilho? Desligo, se quiser. Postam fotos, frases de efeito e mostram como são felizes. Mas são sós. Absolutamente sós. Só possuem como afeto a cordinha.