NAMORO ADOLESCENTE

Um anel em um dedo qualquer do adolescente para exibi-lo aos colegas; longas caminhadas e passeio de mãos dadas com a provável namorada, mas sem olhá-la; fotos na carteira dele também para mostrá-la aos colegas de classe que não acreditassem que estava “namorando a garota”; beijos, só no rosto, mesmo quando estavam dentro dos escuros dos cinemas entre uma e outra passagem dos chamados “lanterninhas”.

Estes atos indicavam e davam início aos namoros dos adolescentes, nos anos 70, sem beijo de língua porque seria considerado “namoro sério” e a moça poderia não gostar “dessas saliências”...

O namoro sério mesmo, só era considerado depois que o rapaz pedisse à mão da moça em namoro, ao pai dela. Nesse momento, as coisas se davam mais ou menos assim:

- Quero pedir a mão de sua filha para namorar?

- Em que você trabalha, meu filho?

?

- Você acha que vai conseguir sustentar minha filha com o emprego que tem?

?

- Está autorizado o namoro, mas terá horário, viu? No máximo, até as 21 horas e não pode passar disso. E se quiser...!

Nos anos 80, uma música romântica oferecida em arraias de igrejas era considerada uma forma de paixão explícita. Mas continuava sem beijo de língua porque a moça “é direita” e não “é dada a essas intimidades imorais...”

As músicas eram sempre oferecidas pelos autos falantes das igrejas, geralmente durante festejos juninos. Com o locutor impostando a voz, anunciava:

– “O fulano de tal, trajando a roupa tal, com os quatro pneus arriados pela fulana de tal, presente aqui na festa, vestida com a roupa tal...” e a moça era toda descrita, “oferece essa linda página musical”. O rapaz tinha a certeza que a moça estava presente no arraial da Igreja porque já a tinha visto, anotando todos os detalhes de como se encontrava para poder descrevê-la por escrito ao locutor.

Era o máximo para quem anunciava e para quem escutava o anúncio. Era o início de um provável namoro de um casal adolescente. Depois, se frequentava a casa da moça e pedia sua mão ao pai. Ruim era quando o pai, na maior cara dura, não atendia aos desesperados pedidos de namoro.

Era como desse uma tapa na cara do ex-provável quase galã da filha!

Contudo, nos anos 70, lembro-me de quando comprei minha primeira bicicleta usada, sem freio, cheia de ferrugem e com pneus carecas e, ansioso para mostrá-la para todo mundo, pedalei mais de 3 km até a residência da namorada que havia conhecido na Escola Dorval Porto.

Fui recebido pelo pai da moça, muito bonita, cabelos longos, um dente de ouro na boca. Como eu nunca a tinha encontrado antes, se todos os dias eu frequentava as aulas?

- Por que você está todo molhado, meu filho?

- Vim de bicicleta!

- Isso aí é uma bicicleta, pensei que fosse apenas uma sucata!

- O que você faz na vida?

- Estudo na mesma Escola que sua filha e vendo jornais na rua!

- O senhor acha que com isso vai conseguir dar um conforto adequado à namorada que você quer?

- Não autorizo não porque minha filha é uma moça direita!

E quem disse que casaria com aquela namorada?

Fiquei meio sem jeito, inventei a desculpa que estava com dor de cabeça e pedalei mais 3 km de volta para casa. Cheguei em minha casa e fui dormir!

Era assim que as coisas aconteciam naquela época, muitas vezes davam certo; de outra forma, como este decepção, não! Mas o que valia mesmo, era a tentativa de se aventurar nos amores da ocasião.

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 05/05/2012
Reeditado em 06/05/2012
Código do texto: T3651983