O CAMINHO DE CADA UM

Esta semana eu me peguei pensando em como a vida é dinâmica, incontrolável ao nosso querer, e em como as coisas funcionam para, na maioria das vezes, darem um equilíbrio necessário à sua própria forma de existirem.

Como homem e sonhador, vivi, dentro da minha realidade, os sonhos sonhados e que, transformados em fatos, deram-me o deleite de ter aproveitado cada instante dos meus tempos de adolescente e jovem adulto, pois, para cada período, a saudade tornou-se eterna e foi arquivada, devidamente, na pasta lembrança, com os codinomes: aventuras, desejos, paixões, prazeres, alegrias, tristezas, despedidas, encantos, decepções e desencantos.

De todas as lembranças, a que eu sinto mais saudade, sem medo de errar, é daquela em que, mesmo sem ter medo de que o amanhã não pudesse existir, vivi tudo intensamente no mesmo dia. De modo que, mesmo que se diga que a pressa é inimiga da perfeição, é essa a que me deu mais prazer e paixão de viver. E entenda-se “fazer tudo no mesmo dia” como se fosse na parábola do Filho Pródigo que, depois de vários anos "aproveitando a vida", voltou para o convívio dos seus.

Mas, o tempo não para e, por causa de algo que chamamos de maturidade – e vem justamente com o passar do tempo, os ânimos vão se aquietando e a corrida desenfreada de outrora muda de nome, com este novo pensar, e passa a se chamar, simplesmente, andar. É esse andar que nos proporciona a procura pela segurança e estabilidade, encaminhando-nos para sermos a “aventura” que mais queremos viver. Desta forma, procuramos encontrar – agora com mais calma e com uma relativa rigorosidade de valores – o que pode nos completar.

Assim, o matrimônio é um requisito básico para o cumprimento desta etapa e, com ele, lógico, os filhos que, juntando todos, formam o núcleo denominado família, e que é, pela sua singularidade, o alicerce mais forte que sustenta uma sociedade.

É, portanto, a família, o ápice de tudo aquilo que quisemos viver intensamente, já que a busca incessante pela felicidade passa a ter sentido a partir do momento em que encontramos o nosso porto seguro (a cônjuge) e, com ele, todos os nossos botes salva-vidas (os filhos).

Desta forma – e já tendo vivido todas as “aventuras” possíveis e imagináveis, tratamos de recorrer ao passado para, ao darmos os primeiros ensinamentos, tratarmos de evitar, para eles, aquilo que vivemos e que não foi legal. Em outras palavras, vamos à frente para “limparmos” o caminho que eles, um dia, terão que passar.

É aí que entra a dinamicidade da vida e a constatação de como ela é incontrolável ao nosso querer. Nem sempre conseguiremos fazer com que o caminho, que os nossos irão trilhar, seja desobstruído da maioria das barreiras que enfrentamos quando fizemos o mesmo trajeto.

E não é por culpa nossa, muito menos pela falta de experiência de nossa parte. Pelo contrário, o excesso de experiência às vezes atrapalha, pois ao invés de darmos conselhos – apenas sugerindo caminhos alternativos –, simplesmente determinamos qual o caminho que eles devem tomar.

Eles não tomam. Eles, como nós fizemos no passado, querem passar pelas mesmas coisas, vivenciar as mesmas aventuras, saborear os mesmos prazeres e, até, sentirem o gostinho amargo da tristeza e da decepção. É como se diz: deixe-me sentir a dor de uma pedra, quando topamos com ela, no meio do caminho.

Há três anos, o meu filho, diante do que estava para lhe ocorrer, disse para a mãe: “mãe, tire-me daqui!” - ele tinha acabado de enfrentar todas as barreiras (quase todas pelo lado negativo delas) de sua caminhada até ali. Para ele, a aventura viera acompanhada de maus momentos que não se caracterizavam, de forma alguma, em sonhos sonhados, mas que estavam para virarem realidade sem que houvesse muita coisa para ser feita. Felizmente, tinha.

Providenciamos um atalho seguro para o trecho mais perigoso de sua caminhada, evitando que ele enfrentasse, sozinho (pois ele mesmo sentiu que não teria forças para lutar contra decepções, fracassos, tristezas – tudo ao mesmo tempo), seus piores pesadelos. Ele foi para longe de nós, morar em outro estado. Lá, Deus (que já tinha providenciado o seu afastamento da tempestade ocorrida no meio do caminho) o levou para o Shalom. Foi uma maravilhosa transformação. Como dizem os evangélicos: Deus operou o Seu milagre.

Este ano, já consagrado à Maria – dentro da comunidade –, foi escolhido para servir em missão, durante um ano, em Fortaleza/CE. Lá, além das atividades de evangelização, estudará, mais profundamente, o sentido da vida.

Daqui, as minhas reflexões. Daquilo que eu posso chamar de “minha caminhada”, e que me deu, até aqui, o conhecimento de discernir o joio do trigo, ele não teve a oportunidade, na verdade, de viver em sua caminhada. Ele, apesar dos conselhos dados, hoje eu sei, erradamente (pois foram dados de forma autoritária – confesso), não teve jogo de cintura para driblar algumas intempéries e quase caiu no primeiro buraco que a estrada lhe apresentou.

Graças a Deus, ele conseguiu, por vontade própria, levantar-se da queda provocada pela topada na pedra que encontrou. Teve a percepção de que, se não se levantasse após a topada, com toda certeza, jamais conseguiria se levantar para enfrentar as próximas pedras que, invariavelmente, estarão em cada trecho de sua estrada mais para frente.

Força e fé, meu filho! Deus te ama e eu também!




 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 06/05/2012
Reeditado em 19/04/2019
Código do texto: T3652416
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.