O Horror
Quando ainda bem menina fui levada para o colégio interno, Só quem passou por essa experiência pode compreender a doçura e o horror que é viver longe da família em um lugar que mais parece um harém sem sultão. Ali eu tive pesadelos horríveis.Eu os tive dormindo e acordada.Conta a minha fantasia que debaixo do armário da escada vivia o fantasma de uma aluna  que fora ali esquecida durante um período de férias. Quando se lembraram dela, se é que se lembraram, foram buscá-la, mas aí o que encontraram não foi nada bonito e ela, por pirraça resolveu não mais sair dali e vivia nos assombrando naquele imenso dormitório que mais se parecia com um campo de concentração. Eu nunca a vi, mas a senti muitas vezes parada na cabeceira da cama, olhando para mim. Minha amiga Maria Eliza a viu e eu até hoje me lembro do horror que se estampou em seu rosto.Quando acordamos ela estava sentada na cama como se estivesse brincando de estátua, olhos e boca arregalados, a cabeleira hirsuta, como se tivesse passado sabão. Para encerrar este assunto, cumpre informar que a cama dela era defronte da minha e ela garantiu que o fantasma estava atrás da minha cama. Mas o pior eram os pesadelos que eu tinha acordada – eu me esquecia completamente do rosto de meus pais e irmãos. Na tentativa de lembrar eu chegava a bater com a cabeça na parede. Foi porém um assunto fácil de resolver. Passei a andar com minha caixa de retratos e andava com ela para todo lugar. Quando o terror se anunciava, bastava abrir a caixa e o problema se resolvia.
Mas, e há sempre um mas para estragar um problema resolvido. Com o tempo, parei de  ter esses pesadelos acordada. Um dia descobri que estava esquecendo de coisas importantes em minha vida. Emoções. Foi então que comecei a escrevê-las, já que não podia fotografá-las.
Agora se alguém me pergunta para e por que escrevo a resposta vem rápida –Eu escrevo para não esquecer.
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