JOSELITO

A lembrança do pai que “foi pro céu” preenchia os dias da vida simples do garoto da roça chamado Joselito.

O pai morrera a poucas semanas, e a saudades era uma constante , seja na sela vazia do cavalo Tordilho, seja no banquinho coberto com um pelego e próximo ao fogão a lenha, onde o pai ficava horas com o seu inseparável cigarro palheiro, ora na boca ora atrás da orelha.

Joselito sendo o filho mais moço tinha naquele pai já velho o seu guia e seu companheiro. Era em sua garupa, na sela do Tordilho, que o menino descobriu haver mais terra além “das terras do pai”.

Esse primeiro contato com a morte, obrigou o pequeno a aceitar o inaceitável. A separação, quase repentina, provocou no seu coraçãozinho um sentimento de surpresa, tristeza e muita dor... dor essa que ele desconhecia.

O tempo foi passando e Joselito acostumou-se à nova realidade. Já não ver mais o pai chegar, cansado lhe pedindo para guardar os arreios do Tordilho, nem tampouco, ver o pai partir em campeiradas, e poder ficar vislumbrando a sua silhueta através dos montes no fim da estrada de terra batida. Tordilho, que também já estava velho e cansado foi vendido pro Seu Licinho, o dono do Armazém.

O que o distraia agora, sua brincadeira preferida era a sua tropa de ossos. Ali ele passava as tardes, sentado no chão do terreiro, esquecendo-se da vida e da triste partida do pai amado. A sua tropa de ossinhos era composta sempre de belos exemplares, aos quais dava os nomes mais bonitos que conhecia, e ali se criavam o boi Teimoso, a vaca Estrela, o cavalo Risoleto e muitos outros, que a sua imaginação de seis anos lhe permitia e a qual o levava a viajar pelos campos do Rio Grande. Joselito, nessa época, não tinha ideia do tamanho das estradas do Brasil. Nesses momentos de sonho, ele transportava-se para além dos potreiros familiares e penetrava nas grandes fazendas de gado, onde, quem sabe no passado o pai tropeiro, montado no Tordilho, escolhia as melhores cabeças, para com isso sustentar muitas bocas...

Hoje, a distancia de tudo isso, fez com que aquilo que a memória esquecesse, o coração guardasse e a lembrança do pai que há tanto tempo partiu, seja hoje a de um tropeiro tocando a sua tropa na invernada do céu....vira boi....vira boi... vira boiada...

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 09/05/2012
Reeditado em 17/04/2014
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