Meu tio Moysés


Médico urologista, mas principalmente, uma pessoa boa, contador de histórias fazia todo mundo rir. Morava no interior e tinha fazenda, carregando por onde ia sua maleta de médico cuidava do que podia, febres, infecções, partos. Ficou doente do coração durante cinco ou seis anos, sabia de seu estado, e falava: "Quero morrer vivo". Um dia antes de sua morte se despediu de mim contando histórias: "Fiz tantas coisas nesta vida, coloquei no mundo tantos brotinhos bonitos, até você, viajei, fiz uma família como sua tia Adelaide". Foi quem fez o parto no qual nasci, rescém formado, minha mãe, sua irmã, os que me receberam e rodeavam jovens cheios de esperança e sonhos. Na véspera de sua morte estava risonho, seus olhos brilhavam, era todo amor. Gostava dos ruídos dos bichos e coaxar dos sapos. Entre as heranças que me deixou quero para mim sua generosidade, sua vontade de ajudar, sua alegria. E certamente desejo morrer viva.