“O Triste Olhar de Maria”.

Na cidade todos eram mais ou menos felizes.
Brigas todo mundo tem.
Discussões idem.
Mas no final como o ditado,
Tudo acabava em pizza.
Menos com o casal João e Maria.
Conheceram-se na escola primária.
No terceiro ano, ele repetiu por que ela ficou doente e foi reprovada por faltas.
Naquela época, o pessoal humilde não recorria ao famoso atestado médico.
E assim continuaram, frequentando a igreja onde ele era Mariano e ela filha de Maria.
Na praça os dois sentadinhos pareciam dois irmãos, ele mexendo em seus cabelos cacheados.
Ou ela espremendo cravos no rosto dele.
Assim terminou a infância e começou a juventude.
Com os dois já mocinhos, estourou a guerra mundial.
Até aí tudo normal, mas de repente o alistamento militar para homens a partir de dezesseis anos.
Não havia meios de escapar honestamente.
E ele nunca ousaria usar de meios escusos.
Um dia de chuva foi para a guerra.
Os dias passaram e nada de noticia.
Na varanda da casa a pobre Maria ficava horas olhando a estrada para ver o retorno de seu amado.
Passou um ano, Maria parecia uma velha com menos de dezoito anos.
Só ia à igreja e depois ficava na varanda da casa esperando o amado.
Emagreceu tudo que podia, com um vento forte era capaz de voar.
Em vão tentaram dissuadi-la deste suicídio.
Irmãs da igreja disseram:
Tem tanta gente boa em nossa igreja.
Arrume alguém pelo menos para conversar.
Eram bons conselhos lógico, porém não para ela.
Neste dia por incrível que pareça estava ensolarado.
Chegou uma moto verde do exército.
Entregou uma carta e foi embora.
Ela não abriu a carta, ficou horas com ela junto ao peito.
De tardezinha encontraram-na caída, morta.
Não havia aberto a carta, mas parece que sabia o que estava dentro.
Viram que era um comunicado da região militar que ele servia.
Dizia o seu comandante que, João e mais outros pracinhas foram pegos em emboscada pelo inimigo.
Foram levados para celas em subterrâneos e torturados para entregar os planos de batalha que não sabiam.
Segundo relato do comandante inimigo que prendeu os rapazes.
Elogiava, pois nem em suplício contaram nada.
Então devolvia os corpos para sepultamente decente junto com os seus.
E mais uma vez elogiava a coragem dos soldados.
Junto com o envelope vinha uma bandeira que cobriu o corpo em seu ultimo caminho à sepultura.
Dava o endereço do cemitério na Itália onde eles estavam.
Assim termina a história do triste olhar de Maria, porém, quando ela recebeu a carta e colocou-a junto ao peito.
Uma dor ágúda em seu coração frágil.
Ela fechou os olhos, quando a dor amenizou, os abriu e viu a sua frente João.
Limpo bonito, barbeado, como nos dias que iam à igreja juntos.
Falou:
-Maria, obrigado por ter me esperado.
Agora ninguém mais vai nos separar.
Curioso é que ela que estava magrinha, agora estava com novo aspecto, um pouco pálida sim, mas linda de se ver.
E saíram de mãos dadas passeando e ela falou:
-João, estou com medo vamos para onde?
-Para nossa nova casa.
-Nós morremos João?
-Não querida isto se chama passagem;
-Estamos passando para outro lugar sem dores, sem sofrimentos.
Onde vamos trabalhar muito como sempre fizemos e nunca mais nos separaremos.
Ficou feliz?
-Sim João, e chegaram a um lindo parque, aonde várias pessoas vieram recebê-los.
Nossa João, minha tia Ana Maria tanto tempo sem vê-la.
-Vá falar com ela espero aqui.
A sua tia falecida a tempos, só que ela não sabia sorriu e pediu para João se aproximar também.
Vamos ficar pouco tempo juntos, mas quero ajudá-los a se recuperar, pois estão doentes.
Eu já estou curada e pedi para ficar um pouquinho com vocês, depois irei embora. Mas dentro de brevíssimo tempo estarão comigo outra vez.
E eles continuaram...

Oripê Machado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 12/05/2012
Reeditado em 13/05/2012
Código do texto: T3664590
Classificação de conteúdo: seguro