Aquarela- Lisy Telles

Amor incondicional - Releitura

Ao findar este Dia das Mães, senti saudade de um tempo que não volta mais, mas que deixou lembranças, que, ainda hoje, servem de farol a nortear minha atitude para como próximo.
Ao relembrar minha mãe e minha sogra, resolvi republicar este texto de abril de 2010.

Amor incondicional

Era hora do jantar. Mesa posta. A família reunida à espera da sopa e do que sobrara do almoço.
Naquela sala, em meio aos comentários do dia, havia alegria e principalmente harmonia.
(claro que este cenário não é dos tempos atuais, onde já não há mesa e nem jantar. Apenas um lanche solitário em frente a TV.)

Havia dia, noite melhor dizendo, em que o jantar era interrompido por alguém gritando no portão.
_ Tia Zildaaa!...

A senhora se levantava e ia atender.
Retornava dizendo:
_ São os filhos da lavadeira.

Quatro. O mais velho com doze, duas meninas de dez e oito e o mais novinho de dois anos.
Chegavam sujos, despenteados e com fome.
Moravam no morro do Salgueiro. A mãe trabalhava o dia todo e o pai vivia de cara cheia, caído pelos bares.

A velha senhora, D. Zilda (que não era tão velha assim) Mandava que eles entrassem. E sentados, esperassem na varanda.

Trazia à mesa, onde o jantar fora interrompido, quatro pratos fundos.
A primeira vista, não haveria comida para tantos pratos. Entretanto, ante aos olhos de todos, acontecia, ali, o milagre dos pães: Feijão, arroz, farinha nos quatro pratos e mais o complemento, que poderia ser ovo, ou o bife restante do jantar, repartido em quatro. Uma banana em cada prato completava o milagre.

Na varanda, as crianças se agitavam de alegria, ante a visão do alimento que mataria sua fome.

Esta cena se repetia a miúdo. Não só na hora do jantar, mas também à tarde, na hora do lanche; quando então: D Zilda, aproveitava para dar banho, cortar as unhas e o cabelo e de cada criança. A tarefa do corte de cabelo era delegada ao marido, barbeiro nas horas vagas

D. Zilda, não freqüentava igreja ou pertencia a qualquer religião. Não teve passagem marcante pela vida nem deixou seu nome na história. Era simplesmente uma dona de casa alegre, apesar das cicatrizes deixadas por uma grave queimadura. Entretanto, sem que percebesse, ensinou aos que com ela convivia, o caminho do amor e do respeito para com o próximo, sem esperar nada em troca.

Eu, recém casada, morava ali com meus sogros e aprendia o que era amor incondicional.
Com minha mãe aprendi a ser forte, mas com minha sogra aprendi a ser melhor.

Lisyt


Lisyt
Enviado por Lisyt em 13/05/2012
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