O sol, inclemente, é tão claro e quente que lhe turva a vista. Turva também os pensamentos de Tião, que anda devagar em direção àquela caatinga de um sequidão de cortar o coração, sem esperança alguma e sem saber aonde  quer chegar. Não há nada que ele possa esperar daquelas brenhas. Um, ou dois talos de mandacarú, nada mais. Esta triste realidade não o impede de continuar andando. O chiado das pedras na chinela de sola é o único som que ele escuta, o vento quente espanta até as aves mais adaptadas àquele pedaço de chão.
               Tião sente que não há onde chegar. Na verdade quer fugir um pouco do peso do que ver em casa. "Bolsa" nenhuma dá jeito para sustentar a sua família de cinco filhos pequenos. O patrão está preoculpado em salvar os bichos,  pensa Tião:
"
Coitados,eles também merecem. De certa forma vão passar melhor que nós, o patrão tem como se arremediar".
Um misto de indignação e indagação lhe vem à mente:
"Porquê?... porquê que tem que ser sempre assim? Se chove nosso trabalho não tem valor, pois a fartura parece que enche a barriga de todos e o que plantamos tem que dar de 'graça' se quizer vender. E se não chove não se faz nem o que comer. Esperar pelo quê e por quem? Devo é ir embora, e me arriscar por esse mundo pra não ver os meus bruguelinhos passar mais fome do que já passam. Por  algum lugar deve haver pelo menos o sustento da minha família. Sei que não vai ser fácil, mas pelo menos não haverá fome e sede, o lamento será outro".
Damísio Mangueira
Enviado por Damísio Mangueira em 14/05/2012
Reeditado em 14/05/2012
Código do texto: T3667690
Classificação de conteúdo: seguro